MAI-JUN-2011
R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 48 } Muitas empresas vêm buscar aqui seus exe- cutivos, devido à capacidade de negociação e ao jogo de cintura dos brasileiros. ~ LUIZ FERNANDO – Observando esse jovem ao longo do tempo, percebíamos antes que ele investia muito tempo na sua carreira e buscava fazer fortuna, mas, aos 40 anos, se rebelava e pen- sava em ter filhos, começava a pensar nessas outras dimensões da sua própria realização pessoal e social. Hoje, de 30 anos estamos passando para 27 anos. Temos ex-aluno que, nessa idade, diz estar cansado, que já trabalhou demais, intensamente nisso e, agora, quer pro- mover um sabatino, repensar a lógica e aí me parece que é a dinâmica do intenso: “Eu fiz demais alguma coisa e me desgastei demais”. Neste cenário, como é possível equacionar vida pes soal, social e profissional? SOFIA – Sua análise é perfeita. No passado, se falava numa segunda carreira, no plano B, de- pois dos 50 anos de idade, quando a pessoa já havia chegado ao topo, numa função diretiva. Hoje eles passam três anos emmarketing, vão para finanças, depois para recursos humanos e essa busca por novas ações é muito maior, assim como o sabático. É porque o cansaço é grande. Como já falei, trabalhamos 24 por sete, não nos damos conta disso: é blackbarry, celular, tablet, cada vez mais estão nos trazen- do instrumentos que geram a necessidade de dar retorno o tempo inteiro e isso cansa muito. Como conciliar tudo isso? Eu talvez seja um bom exemplo disso. Minhas prioridades de vida são claras: nada para mim é mais im- portante do que os meus filhos. Então, entre ir à empresa que me chamou para um projeto e ir à reunião que a escola marcou, eu vou à reunião da escola e comunico isso ao meu cliente. E se ele não souber respeitar isso, não é para ser meu cliente. Não sou uma pessoa que vou me realizar somente no trabalho. Preciso chegar em casa e sentir que tenho meu porto seguro. Há dias em que tenho de viajar, não durmo em casa e fico trabalhando até mais tarde, mas isso tudo é combinado e há um equilíbrio. Passo para os meus filhos uma questão importantíssima: nunca digo que vou trabalhar, mostro a eles o projeto legal que tenho de fazer na empresa e como isso é bom para mim. Sem querer, as pessoas acabam passando para os filhos que trabalhar é muito chato. Na mesa de jantar contamos que fulano puxou o tapete do outro ou que o pai se matou de trabalhar e cortaram o bônus que ele achava que tinha direito. Tanto que hoje o número de jovens indo para turismo, moda e carreiras que exigem menos terno e gravata é enorme. E a culpa disso é nossa. Essa intensidade do trabalho, de querer o novo o tempo inteiro, de se provar com frequência pela falta de autoconhecimento é uma busca constante e muito ruim. LUIZ FERNANDO – Não falamos durante nossa conversa sobre uma palavra que viroumantra nos últimos tempos: o jovem empreendedor. Você foi uma jovem em- preendedora logo no começo da carreira. Que avaliação você faz desses jovens, a partir da sua própria vivência? FRANCISCO – Você própria lembrou que o primeiro mandamento da interação empresa X trainee é a aceitação pelo trainee dos valores da empresa. Na prática, isso, muitas vezes, pressupõe a abdicação de sua vocação empreen- dedora. Parece-me que esta adaptação, E N T R E V I S T A
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