Revista da ESPM MAR-ABR_2007
Mesa- Redonda JR –Vou direto ao assunto: Consumir é pecado? ROBERTO – Permita-me falar como publicitário veterano, que começou trabalhando na Colgate Palmolive – numa época em que o consumo de pasta dental no país era para apenas 5% da população. Não se usava sabonete, não existia xampu, havia preconceito contra o consumo – que se expressava principalmente através de racionalizações do tipo: o produto X dá diarréia, o produto Y estraga os dentes, outro prejudica os pés – os pre- conceitos revelavam algo do espírito “católico”, mas mostravam sobretudo a pobreza do país. Até hoje, o con- sumo é baixo, no Brasil, em termos per capita para amaioria dos produtos. Consumo é, primeiro, uma questão de conhecimento. Quer dizer: os fa- bricantes têmde disseminar as funções dos produtos. Segundo, as facilidades de produção e da distribuição, que são dois fenômenos recentes da economia. Quando eu trabalhei na Standard, lembro-me de que um dos produtos mais consumidos era Aqua Velva – perfume para homem, outro pecado. Aí, chegou o novo presidente americano da empresa e achou que o distribuidor estava ganhando muito, e que se devia livrar dele e ter a sua própria equipe de vendas. Só que o distribuidor se chamava Bozzano e resolveu lançar seu próprio produto e acabou com a Aqua Velva... Neste fim-de-semana, estive no Maranhão, em Barreirinhas – inacreditável, em termos de pobreza.Oestabelecimento mais divertido do lugar é a farmácia. Falta tudo. Claro que sou a favor do consumo responsável, mas vejo consumo como expressão do bem- estar, do conhecimento e da boa distribuição de renda – uma coisa está muito ligada às outras. RICARDO – Será que o consumo desenfreado não se tornou um pouco pecado? O consumo – como está sendo feito – é pecado sim. Há 15 anos, quando o ser humano começou – visivelmente – a destruir o planeta; comcerteza, o consumo é umpecado pois acabou, involuntariamente, pro- vocando essa destruição. MARIO – Na mídia – e mesmo nos textos acadêmicos – faz-se uma certa confusão entre consumo e con- sumismo. Sobre a sua pergunta, se “consumir é pecado”, saiu um artigo na revista Exame , em 1989, chamado “Consumir não é pecado”. Claro que consumo é algo fantástico, que faz os países se desenvolverem, gera empregos etc.Mas, estabelecer limites entre o que é consumo responsável e o que pode ser classificado como consumismo é complicado. Opróprio tema – consumo – foi, por décadas, tabu nomeio acadêmico – o consumo simplesmente não era estudado pelos cientistas sociais... JR – Em economia talvez... MARIO –Mesmo em economia, tive- mos o exemplo da ministra Zélia, que confiscou a poupança e não sabia que as empresas tinham de pagar contas no fimdomês. Oconsumo sempre foi “O CONSUMO DE PASTA DENTAL NO PAÍS ERA PARA 5% DA POPULAÇÃO. NÃO SE USAVA SABONETE, NÃO EXIS- TIA XAMPU...” 112 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2007
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