Revista da ESPM MAR-ABR_2007
Mesa- Redonda estou-me definindo. Discordo um pouco de que haja essa esterilidade acadêmica de reflexão sobre o consumo. Acho, até, que há uma produção acadêmica imensa sobre o consumo. Fui obrigado a fazer esse inventário por conta de um programa de mestrado – autorizado pela CAPES – que se chama Comu- nicação e Práticas de Consumo. Levantamos toda uma produção – nacional e internacional – que me deixou convencido de que o estudo do consumo é bastante extenso. Por exemplo: o consumo cultural é uma forma bastante esclarecedora sobre “quem sou” – pois não é a mesma coisa dizer-se consumidor de cinema iraniano e dizer-se apreciador da música de Amado Batista. Ao consumir certo produto cultural, estou pedindo permissão para pertencer a um determinado universo de consumidores com as mesmas características, e estou-me diferenciando de outras pessoas que não têm as mesmas inclinações de consumo. O consumo, então, passa a ser condição de uma categoriza- ção social. Posso jogar com a minha reputação, com o meu capital social, em função do consumo. Como, então, o consumo pode ser pecado? Porque a sociedade é exigente, castradora em seus pertencimentos, e – toda vez que um consumo for desviante, inapropriado ao pertenci- mento a um certo universo ao qual eu desejo pertencer – serei punido como tendo mau gosto, como sendo cafona, inadequado ou destruidor da natureza. Por isso, consumir é mais do que adquirir algo ou dispor de um serviço; consumir é existir de uma certa maneira no mundo social, que vai me categorizar, classificar e julgar em função dessas mani- festações. É praticamente existir em sociedade. ROBERTO – Você já pensou na hipótese de que o consumo – em vez de servir para comunicar “quem sou” – possa ser apenas um prazer? Por exemplo, o consumo de comida não precisa dessa longa explicação; o consumo de saúde também não. O consumo de coisas essenciais, o consumo hedonista – pelo mero prazer de consumir – não temmuito a ver com essa preocupação de se comunicar o tempo todo. Se formos simplificar, o consumo fundamental é comer e dormir; o resto é convenção. PAULO – Essa discussão sobre se é pecado ou não assusta-me; porque um dos grandes males do Brasil é a nossa herança católica, que nos leva a complicar as coisas. Mas eu diria que o consumo não é pecado por uma razão muito simples: porque o consumo não existe – são seres humanos atendendo às suas neces- sidades. Analisando a história da humanidade, o que vemos são indivíduos buscando atender às suas necessidades, em diferentes estágios, e o atendimento de neces- sidades, no contexto atual, dá-se sob a forma de consumo. GRACIOSO – Creio que o Clovis e o Paulo e o Roberto estão em campos opostos. Paulo e Roberto associam o “A PUBLICIDADE E O MARKETING NÃO DEVEM SER DIRIGIDOS PARA CRIANÇAS.” 114 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2007
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