Revista da ESPM MAR-ABR_2007

Consumir é pecado? consumo à felicidade pessoal. Quem satisfaz uma necessidade se sente melhor. OClovis partiu para o campo oposto: eu consumo para que todos pensem bem de mim... PAULO – Uma estrutura básica de raciocínio que ajuda a compreender a questão é a Escala de Maslow, que mostra como diferentes indivíduos e sociedades vão atendendo a diferentes níveis de necessidades. As necessi- dades básicas dos seres humanos são a proteção e a segurança. Mas a pri- meira de todas é a sobrevivência, que implica comer e dormir; depois vema segurança, precisamos de habitação e de algum tipo de proteção... MARIO – Acho que estamos pondo, no mesmo balde, vários consumos e várias pessoas. Existe um consumo símbolo. Quando o Roberto e o Paulo falam de comida e proteção, é o conjunto de necessidades humanas, que a civilização ocidental, nos países desenvolvidos, aparentemente su- perou. Acho que a grande discussão sobre consumo não é sobre as neces- sidades humanas; mas, sim, sobre os desejos.As necessidades humanas são quase universais. “Estar com fome” – seja no Brasil ou na África – é a mesma coisa. Mas, quando falamos de especificidade – de algo particular – ela passa a ser individual e infinita. Aí entramos no “consumir é pecado, ou não é”, entramos no desejo. Nisso, tanto a esquerda convencional – União Soviética, Alemanha, PT, xiitas e até a igreja católica – não condena a necessidade, o consumo básico; condenam – se é que tem de ser condenado – desejo. Isso está até na origem de uma das maiores religiões do planeta – que é o budismo – que vê o desejo como um dos 7 pecados capitais. Posso alimentar-me, como necessidade, ou simbolicamente, no restaurante Fasano, para que todos vejam que estou no Fasano. PAULO –Qual é a diferença do desejo de um índio querer uma camisa igual a um “branco” – e eu querer uma BMW? MARIO – Nenhuma. Se pegarmos os grandes autores ligados a consumo, de Jean Baudrillard para frente, isso, dos anos 60 e 70 para cá, quando ele era um dos únicos. Se o Clovis verificar toda a biografia do mestrado, verá que é recente. Há, também, oVeblen, considerado como uma das grandes referências do consumo. RICARDO – Nos jornais deste fim de semana – Folha e O Estado – as manchetes de primeira página, com cadernos especiais, foram sobre o aquecimento global. Será que nós – que fazemos parte da elite bra- sileira – ao ler isto no jornal, nos assustamos? Será que dizemos: “Eu, como profissional, tenho a ver com o aquecimento global”? PAULO – Por que você acha que milhões de pobres chineses querem sair das áreas rurais e migrar para as cidades, para ter trabalho, consumir e viver melhor? Ao fazer isso, eles precisam comprar e – ao fazer isso – destroem o meio ambiente. São duas discussões diferentes: uma é a motivação do indivíduo e a outra o que isso pode causar. RICARDO – Não! Trata-se da respon- sabilidade de cada um. Há muito tempo estou envolvido coma questão da sustentabilidade. Este tipo de con- sumo – por impulso – tem de mudar. A forma de consumir temdemudar. O consumo é a ponta dos processos de “CONSUMO NÃO EXISTE – SÃO SERES HUMANOS ATENDENDO ÀS SUAS NECESSIDADES.” 115 MARÇO / ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M

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