Revista da ESPM MAR-ABR_2007

Mesa- Redonda produção, se ele mudar, a produção vai-se adaptar. Nós sabemos que há desperdício. Comopodemos deixar de levar emconta o consumo sustentável? Isso temde fazer parte da consciência de cada um de nós. CLOVIS – Gostaria de retornar a este tema: não creio que haja duas coisas diferentes, a questão simbólica e a questão das necessidades. Quando você passa diante de uma vitrine e per- cebe, pelos sentidos, umdeterminado produto, e essa percepção gera em você uma “inclinação desejante”, o que efetivamente gera essa inclinação – necessária para a compra – é a coisa em si ou é satisfação?A satisfação está imbricada no valor simbólico da coisa. Não é só a coisa que traz prazer, mas o que ela significa.Tomar uma garrafa de vinho não é produzir um encontro entre um líquido e o corpo, mas este corpo – que toma o vinho – é um corpo socializado e adestrado para gostar de umdeterminado líqüido que está dentro e por detrás de um certo rótulo. Não se pode pensar a necessi- dade e o desejo sem pensar no que os produtos e serviços querem dizer, do ponto de vista simbólico. Não existe, de um lado, a cultura e os símbolos e, do outro, o corpo e seus desejos e ne- cessidades – porque os desejos e neces- sidades do corpo são, sim, inclinações para o mundo que tem um valor sim- bólico, definido culturalmente. Simpli- ficar o consumo à satisfação de uma necessidade pode ser muito ajuizado, desde que se entenda necessidade como uma construção civilizatória que canaliza potenciais para um certo mundo desejável e afasta potenciais para um outro mundo indesejável, condenável, proibido. JEAN – Quando as ciências biológicas estudam o consumo, elas não dão suporte ao que o Clovis disse, mas sim ao que disse o Mario. Existe uma diferença entre necessidade básica, a satisfação, a estimulação de áreas cerebrais de uma pessoa que está na África, com fome, e absorve o alimento – uma dada área cerebral é estimulada. Quando, porém, vê um Vison, um videogame de última gera- ção, uma BMW, as áreas estimuladas são praticamente sobreponíveis às áreas sexuais. Se alguém estiver com fome – na nossa sociedade – e se ali- mentar, não será com caviar ou outras iguarias. Para a satisfação da fome e da sede, são estimuladas áreas cerebrais “EU, COMO PROFISSIONAL, TENHO A VER COM O AQUECIMENTO GLOBAL.” 116 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2007

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