Revista da ESPM MAR-ABR_2007
Consumir é pecado? uma pessoa cujo comportamento se manifesta através do cartão de crédito, depois ele vai ao cinema, depois ao su- permercado, abastece o carro... Todo fim de ano saio de férias e procuro ir a locais incomuns, para tentar com- preender mais as pessoas, a cultura e o comportamento humano. Logo se percebe que existe algo comum entre as diferentes coletividades, que são indivíduos procurando desenvolver e melhorar a sua condição de vida. Isso faz parte da natureza humana. O homem sempre irá buscar esse desen- volvimento. O Ricardo faz o discurso político da mudança, até concordo com você. A China, por exemplo, se existe um fator para detê-la, é o meio ambiente. Só que promover mudança passa por uma compreensão muito clara do que seja o modo básico dos indivíduos. ROBERTO – Aquela cidade no Piauí – onde foi lançado o fome zero. Depois de lançado o programa, na cidade-símbolo, fizeramuma pesquisa sobre outras coisas que a população desejava. Deu dois resultados: uma es- tação de rádio e um salão de beleza. PAULO – O Roberto falou da pasta de dente, lembrei-me de quando comecei a estudar – o xampu, era uma parcela muito pequena da sociedade que usava. Essas coisas são simples. Como se propagam? Pelo marketing, pela força avassaladora do marketing? Não. Propagam-se porque a pessoa acaba descobrindo que o cheiro de uma boca escovada comcreme dental émelhor do que o cheiro de uma boca sem creme dental. O cara descobre queapessoaao seu lado, queusadeso- dorante, é mais agradável do que uma que não usa. Então temos de entender a origem do processo para escolher direito o alvo, porque senão nós é que seremos o alvo... Focar a proposta da mudança no marketing, no consumo, está errado, porque há outra coisa por trás, que é o indivíduo buscando atender às suas necessidades. JEAN – Pecado – por definição teológica – é errar o alvo. Então quando o consumo erra o alvo, ele está pecando. JR – E o consumidor? JEAN – O consumidor pode ter cons- ciência do erro ou não. Interessa saber se o produto que ele está usando tem isso ou aquilo e irá prejudicar o meio ambiente. Trata-se de lidar com uma cultura de toda a população. PAULO – Mas não é um problema de marketing; éumproblemadeeducação do indivíduo, que começa na escola. Se não conseguirmos entender os modos básicos do comportamento humano, ficamos sem saber onde agir, e vamos propor uma ação em cima de algo que é conseqüência e não causa. GRACIOSO – Se cruzarmos a curva do índice de qualidade de vida com a curva do consumo dos vários paí- ses, veremos que elas são paralelas. É óbvio: quanto mais se consome, melhor se vive. A propensão a con- sumir não tem limite e consumir cada vezmais – o que é o pior de tudo – faz parte da natureza humana. Seria possível, em teoria, levar os valores de uma sociedade a prezar o consumo de coisas que não ajudam o meio ambiente. Mas, repito, isso é função de uma ditadura. JEAN – Eu morei na França e lá existe uma ditadura cultural. Aqui – quando abrimos a Folha , O Estado de S. Paulo – vemos, no mesmo jornal, diversas linhas de pensamento. Quando se abre o Le Monde na França, é a mesma linha, é fluido. Isso é uma ditadura de pensamento. MARIO –Nós temos opapel reciclado, e é coisa que o consumidor aceita. O Estado deu, no domingo, notícia so- bre um “casamento sustentável”, no parqueTrianon, como algo que gerou status . As pessoas acham o máximo o talão de cheques de papel reciclável do banco Real, embora a maioria não saiba o que é sustentabilidade. Se pudermosofertarprodutospoliticamente “A DEBACLE DO CIGARRO OCORREU EM MENOS DE 10 ANOS.” 119 MARÇO / ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
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