Revista da ESPM MAR-ABR_2007
Consumir é pecado? responsável, trabalhando a dimensão da consciência. Mas isso ultrapassa de muitoaaçãodomarketingedacomuni- cação; éumproblemadeeducação.Da mesma forma que ensinamos alguém a ter educação, cumprimentar os ou- tros, respeitar, não roubar, não matar, não pecar, temos de convencer esse indivíduo, de que, agora, além dos 10 mandamentos há o 11 o : respeitar o meio ambiente. MARIO – Achei que todos iriam dizer asmesmas coisas, sobre consumo, con- sumismo.Masvejoqueasdiscussões,os pontos de vista divergentes, só reforçam a minha sensação de que ainda pouco seescreveueestudounessaáreadocon- sumo.Temos luminares, pesquisadores, profissionais do meio acadêmico, um neurologista, com opiniões díspares. Acho isso fascinante. Prova que muita coisa tem de ser feita. Há campo, tanto no mestrado em práticas do consumo quanto no próprio pós-graduação em ciências do consumo, para investigar isso a fundo. Segundo a pista do Clovis, de reforço positivo. Lembrei-me do fato de que na Alemanha, por exemplo, as pessoas têm de levar a sacola ao super- mercado. Se o supermercado desse um descontoparaquemlevasseasuasacola – veja a quantidade de sacolas que são usadas uma vez e jogadas fora – talvez começassem a mudar os hábitos. Um reforço positivo, às pessoas; se têm um prêmio–comomencionouoClovis:um elogio ao aluno, umdesconto na conta, um desconto no IPTU quando se pinta a fachada – tudo isso pode mudar os comportamentos emdireçãoà sustenta- bilidade, que o Ricardo defende. ROBERTO – Creio que essa tendência ao consumo responsável é irresistível. A própriahistóriadoconsumo levaaoque poderia chamar de neoepicurismo, que é consumir de maneira responsável. A palavra persuasão tem a mesma raiz da palavra hedonismo . Ohedonismo era a busca do prazer a qualquer custo, e se expressava, por exemplo, no fatodeque osescravoseramenterradoscomos seus senhores... Aí, foi dado aos escravos o direitode lutar antes de sermorto, como gladiadores. Houve os estóicos, que achavam que a elevação espiritual vem com o sofrimento, que é uma forma de consumoresponsável.Corintoeraocen- tro do atletismo, do sofrimento, do culto aocorpo.Asíntesedoestoicismocontra ohedonismo e o epicurismo.Ou seja, o consumo comprazer, semo sofrimento de outro ser humano. Daí vieram a gas- tronomia, a maneira de se vestir – que são conseqüências, inclusive, da vida urbana. Na vida rural, temos de livrar- nos dos mosquitos e piolhos... Então, o consumo é justificável, para se ter um mínimodeconforto, contraessascoisas. Mas acho que o consumo responsável, preservando o meio ambiente, é uma questão só de persuasão, disseminação do conhecimento e do neoepicurismo, e que já está acontecendo. Vemos produtos que já não têm mais o CFC, produtos quenãoengordam, a lutacon- tra a obesidade, contra o alcoolismo. A debacle do cigarro ocorreu emmenos de 10 anos. Era status antes, passou a ser pecado. Essas coisas são expressão da disseminaçãodo conhecimento, da busca do bem-estar – e o bem-estar inclui viver numambiente preservado, onde se aprecia o verde – mas isso se dá através da persuasão. RICARDO – Quero expressar a alegria que senti, ao discutir com vocês um tema tão importante. E cumprimentar a Escola por trazer esse tema consumo, inoculando em todos a necessidade do consumo sustentável, consciente e responsável. Este tema não pode mais sair das mesas de debate. Temos, sim, de dedicar um “tempinho” da nossa vida para refletir que é preciso mudar: noconsumo, naprodução, nas relações coletivasepessoais.Amudançacomeça em cada um de nós. E queria sugerir à Escola trazer para seu currículo discipli- nas sobre consumo sustentável, porque o que se discute nessa Escola repercute no Brasil inteiro. GRACIOSO –Pensandorealisticamente, acho que a solução desse problema do consumoresponsávelnãoestánospaíses pobres; não está no Brasil onde metade da população ainda não chegou a um nível decente de consumo. Ou na China, onde 2/3 ainda estãode fora; na Índia em que 4/5 ainda estão de fora. Não se pode pedir a toda essa gente que se negue o prazer de um banho quente, depois de duas horas no trem da Central. A solução está nos países ricos. Resta saber – como o Paulo disse muito bem– se conseguirão contrariar a natureza humana. Pessimistamente, prevejo que a próxima guerra mun- dial será pelo controle das matérias- primas. Os grandes países talvez já perceberam que as matérias-primas sãofinitas. Não émuitobonitoo futuro que se desenha. JR – Como o Gracioso tocou uma nota meio pessimista, quero apenas levantar um aspecto de ordem mais didática. Muitas vezes, o papel de uma escola – ou de um professor – não é o de criar certezas, mas fazer com que os alunos façam as pergun- tas certas. Vocês cumpriram o nosso objetivo e espero que continuemos a estimular os leitores da Revista da ESPM – e também os alunos e professores – a continuar a fazer as perguntas certas, tentando respondê- las da melhor forma. ES PM 123 MARÇO / ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
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