Revista da ESPM MAR-ABR_2007
Marcelo Coutinho comunidades “virtuais” são tão impor- tantes para eles quanto as comunidades domundo “real” (Digital Future Project, 2007). No caso brasileiro, este tipo de comunidade respondepormaisde15% do tempo total queasos internautas resi- denciais passamon-line, comoveremos mais adiante. Mas afinal, o que caracteriza uma “comunidade”?Trata-se de uma palavra com “mil e uma utilidades”, e com sig- nificados diversos conforme o campo do conhecimento que a utiliza. Basica- mente, o conceito emerge da noção de comprometimento com valores com- partilhados, criada pelo sociólogo Émile Durkheim no início do século XX. O termo deriva do latim communis , desig- nandooqueécomum,público,dividido portodosoumuitos.Oestudodascomu- nidades faz parte de uma longa tradição sociológica,psicológicaeantropológica, campos dos quais iremos retirar alguns conceitosparaentendersuaconstituição, dinâmicaepossíveisconseqüênciaspara as decisões de consumo. Comunidades atendem necessidades sociais, psicológicas ou econômicas.As primeiras comunidades eram limitadas pela geografia, pela temporalidade e pelos meios que seus integrantes pos- suíam para interagir uns com os outros –basicamente,avozeapresençafísica 5 . O desenvolvimento da comunicação digital eliminou estas barreiras, mas não alterou alguns princípios fundamentais: a existência de interesses comuns, um código de conduta compartilhado (ex- plícita ou implicitamente), um “senso de intimidade” baseado em confiança mútua, reciprocidade, estímulo para a participação e uma liderança (nova- mente explícita ou implícita) que se preocupa em assegurar a manutenção deumpropósito, aobservaçãodecertos “rituais” (comemoração de datas espe- ciais,porexemplo)eoestímuloparaque as pessoas sigam interagindo. Os interesses comuns que cimentam uma comunidade podem ser de dois tipos: práticos e/ou hedonistas. No pri- meirogrupo, encontram-se temascomo informações sobre produtos, empresas, tecnologias, passatempos, economia, condições de trabalho, saúde etc. Já as comunidades hedonistas são organiza- das em torno da troca e do consumo de experiências positivas em torno de interesses pessoais, como música, alimentação, viagens ou características demográficas (pessoas acima de 60 anos etc.), entre outros interesses. Nas duas situações, a comunidade acaba por se tornar ou fornecer um “grupo de referência”, capaz de influenciar esco- lhas e decisões de consumo (Bagozzi e Dholakia, 2002). As primeiras “comunidades digitais” se baseavam principalmente na interação através de textos, e estavam restritas aos grupos de consumidores com maior familiaridadecoma tecnologia.Mesmo assim já demonstravam grande capaci- dadedeinfluenciarocomportamentode umindivíduo, comodemonstrouSherry Tuckle no clássico “Life on the Screen”, onde ela analisa as interações de par- ticipantes de jogos de RPG em rede no início dos anos 90 (Tukle, 1995). A evolução daWeb possibilitou a cria- ção de novas formas de comunidades. Emumprimeiromomento, a evolução do software permitiu que o trabalho de criação e edição de conteúdo escrito fosse tremendamente facilitado através dos blogs (alguém aí se lembra do que BASICAMENTE, O CONCEITO EMERGE DA NOÇÃO DE COM- PROMETIMENTO COM VALORES COMPARTILHADOS, CRIADA PELO SOCIÓLOGO ÉMILE DURKHEIMNO INÍCIO DO SÉCULO XX. TEMPO TOTAL QUE OS INTERNAUTAS RESIDENCIAIS PASSAM ON-LINE NO BRASIL 15% Ilustração: Design CMSO © 2005 31 MARÇO / ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
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