Revista da ESPM MAR-ABR_2007
60 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2007 Entrevista liar”, que, através de décadas, tendeu a variar muito pouco: alimentação, moradia, transporte, lazer etc. No seu livro, V. afirma que isso vai mudar. As pessoas vão comer menos, para poder ter um celular? CHETOCHINE – Atualmente, o orça- mento familiar para comunicação – telefone, internet, TV – é de 14%, na França. Isso também quer dizer que boa parte do dinheiro não vai para fabricação; vai para serviço. Quando se usa telefone, usa-se uma máquina, que pode estar sendo fabricada num país com mão-de-obra é cara. Na França, o primeiro item é moradia – 30%. Mais 14% para a comuni- cação, logo se tem 45% em coisas inconsistentes. Temos mais vontade de consumir e não temos dinheiro. Por isso os franceses não queremmais o sistema capitalista – 50%dos france- ses não aprovam a globalização e a liberalização da economia; querem um sistema comunista. GRACIOSO – Quando comecei a tra- balhar, como redator, numa agência de propaganda, meu primeiro salário era suficientepara comprar uma geladeira. Hoje, um redator principiante compra 4 geladeiras como salário de ummês. Talvez as agências continuem a pagar a mesma coisa, porém os produtos custam menos. CHETOCHINE – Outra coisa impor- tante: quando éramos jovens, casá- vamos aos 20 e as famílias tinham 3, 4 filhos. Minha filha se casou aos 30 anos;minha segunda filha está com30 e mora comigo e meu filho, com 34, não casou; vive coma namorada, mas não casou. É um mercado diferente. Quando se vive com alguém – sem ser casado – compra-se o mínimo, e usa-se o dinheiro para outras coisas. Isso foi resultado da pílula, que per- mitiu fazer amor sem ser casado. A pílula alterou a economia e toda a estrutura social. Dentro de 30 anos, a língua alemã poderá não mais existir – e se falará turco. Entre os nomes de batismo mais comuns, na França, o número 10 é Mohamed; o primeiro é Georges. Na Alemanha, Mohamed é o número 3. Quando pegamos um táxi, emMunique, omotorista é turco; quando vamos ao restaurante, somos atendidos por um turco; não é alemão. Eles ainda têm filhos. Alguém ainda vai descobrir que a pílula foi uma in- vençãomarxista, para fazer comque o mundo capitalista fosse à ruína... JR – Você descreve um cenário preo- cupanteparao futuro.Você vê – a curto e médio prazos – uma solução mais política ou mais econômica? CHETOCHINE – Temos de refletir sobre o que vai acontecer, no mundo. Sabemos que estamos diante de um período de aquecimento, de brusca mudança de temperatura. Os gover- nos pensam que vamos ter um grande problema, já em 2014, quer dizer: dentrode7anos.Voudar umexemplo: a Revolução Francesa não foi conse- qüência do que fez Robespierre, ou do que escreveu Beaumarchais; mas sim conseqüência de 110 dias semágua e, depois, de 60 dias com água demais. O preço da batata, do trigo subiu, as mulheres se revoltaram, foramàs ruas... Temos de lembrar que, em 1860, a temperatura da Irlanda caiu a menos 30 graus, e morreram um milhão de pessoas de frio e fome. Em2012, 2013 e 2014 vamos ter um período frio, na Europa. Poderá faltar água no Brasil. A China travará batalhas contra os russos, por problemas de água. Por tudo isso, visualizo o fim do marketing, a curto prazo;mas jápodemos dizer queopós- marketing será formidável. Será uma grande sorte, porque virá a inovação. Se vier o frio, quem se preparar para construir uma casaquenãoperde calor vai ganhar muito dinheiro. Quando a Toyota lançou o Primus, disseram que eram loucos; mas, agora, aToyota está preparando carros que não precisarão de petróleo. Se estamos vivendo uma civilizaçãododesperdício, omarketing também poderá ser uma solução para o desperdício. Se queremos estimular novos comportamentos, temos de ter um novo marketing, que seja respon- sável. Se as pessoas que trabalham em marketing resolverem que não farão mais propaganda apenas para criar personagens ou fazer comque as pessoas comprem quatro vezes mais, então vamos reconstruir o mundo. Honestamente, penso que a nova geração será a geração do marketing responsável e que as universidades – que terão grande fama e importância – vão ensinar aos alunos o marketing responsável. Daí virá a inovação – e penso que é onde está o futuro.“ “QUANDO SE VIVE COM ALGUÉM – SEM SER CASADO – COMPRA-SE O MÍNIMO.” ES PM
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