Revista da ESPM MAR-ABR_2007
83 MARÇO / ABRIL DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Rob Shields onde vem tanto poder? Então, eu diria que – além da cibercultura e da virtualidade –, se olharmos mais adiante, o próximo tópico que se apresenta é o mundo mate- rial. Este será o próximo assunto predileto à discussão. Que bom é tocar um objeto, pegá-lo, vê- lo, antes de comprá-lo. Talvez isto seja admitir que teremos de discutir todas essas questões im- portantes, novamente. GRACIOSO – Não foi o Woddy Allen que disse: “a realidade é o único ambiente em que podemos comer um bom bife no jantar”? ROB – Tudo isso são manifestações con t empo r âne a s de an t i g a s questões históricas, identidade, o mundo social e sua continuidade, e não um objeto criado por um engenheiro suíço, por exemplo. MÁRIO – Sinto a ausência, no mundo virtual, dos sentimentos e dos sentidos. Dentro de 5 anos, poderemos mandar um romance inteiro para um telefone móvel. Lembro de um filme em que a atriz entrava no computador, vestindo luvas, e interagia com as pessoas – e era real. Se você me perguntar se quero viajar a Paris sem ter que cobrir 10 mil km de distância, aeroportos etc., tendo as sensações de estar em Paris pelo computador, o cheiro das ruas, tocar as pessoas ou até ter relações sexuais com uma mulher real, comer os alimentos, tudo “igualzinho”, vai ser difícil lidar com isto. No momento, vejo que o mundo virtual se concen- tra quase totalmente no aspecto visual. Eu escrevi contos de fada. A segunda vida não passa de imaginação. Não sentimos nada. Parecem ansiedade ou alegria, mas é como jogar baralho... Concordo 100% com o Prof. Gracioso, é bem melhor comer um bom bife de filé mignon, ler um livro, interagir com as pessoas no dia-a-dia. ROB – Concordo com ambos. Falar que o bife era delicioso é uma expansão, é se abrir e falar de como o jantar foi gostoso. Hoje, as pessoas falam “como foi bom ter saído de férias”, para voltar para casa e ver as fotos, suas revisões de expectativas ao fazer uma avaliação. É uma extensão do que significa simplesmente estar na praia, em termos de com- partilhamento de impressões. É a simulação da presença e, talvez, a extensão de tal vivência pessoal. Também, a vivência do celular é um tipo de vida comunitária, as pessoas sentem os acordos pes- soalmente, por assim dizer. Ou as pessoas incorporam-nos às suas vidas ou, se não gostam, jogam os celulares fora. MÁRIO – Eu tenho uma regra própria para celulares: moro num prédio, quando entro no elevador, ligo o celular, quando volto ao ele- vador, desligo. É celular “movido” a elevador. ROB – Você desenvolveu um comportamento sobre a disponibi- lidade que esta mídia lhe oferece no seu dia-a-dia e como fará parte de suas interações diárias. MÁRIO – Minha namorada disse, certa vez: “muitos amigos se en- contram através da internet, chat rooms, se encontram mil vezes”, é um comportamento compulsivo. ROB – As pessoas querem ter a sorte de encontrar a pessoa perfeita. É uma característica potencial, latente na internet, do virtual. Há uma pessoa real que poderia ser tocada, que é real – marcar um encontro pode se tornar compulsivo. Um bom exem- plo de virtual são os mercados. Os mercados são virtuais no sentido de que existem, mas não podemos tocá- los. A metáfora “a mão invisível do mercado” procede. É uma abstração. Todo mundo sabe que há algo de er- rado com esta metáfora, da invisible hand , mas passa a mesma idéia. MÁRIO – Os mercados são virtuais? ROB – Sim. Não são cyber, são ape- nas intangíveis, são virtualidade. Na nossa economia, em nosso mundo, isto está ficando cada vez mais evidente e óbvio, levado à frente pelos países da OECD: a criação de padrões internacionais o conhecimento organizacional, as limitações das legislações so- bre a propriedade intelectual e sobre as marcas, tudo, todos são objetos intangíveis. É fascinante, ao menos para mim. “MERCADOS SÃO VIRTUAIS, NO SENTIDO DE QUE EXISTEM, MAS NÃO PODEMOS TOCÁ-LOS.” ES PM
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