Revista da ESPM MAR-ABR_2007

Do rebanho ao estilo atende às necessidades do consumi- dor. A idéia aqui é problematizar a noção de necessidade. A referência desta perspectiva é Col- lin Campbell, em A ética romântica e o espírito do consumismo moder- no (Rio de Janeiro: Rocco, 2001). Como o título do livro sugere, o au- tor está se referindo e contrapondo às teses clássicas de Weber sobre o sujeito moderno. Campbell retroage o nascimento do consumismo em dois séculos, com relação aos autores que temos visto. Bem antes da explosão da produção em massa no início do século XX, já desde o século XVII, podemos identificar a produção e consumo de produtos que se poderia considerar supérfluos. Como reação à moral protestante, tão rígida e voltada para a acumu- lação, uma onda “sentimentalista” teria se afirmado. O homem sensível vive num estado de insatisfação que, segundo Campbell, ele anseia por manter. Isto explicaria a procura por objetos que se tornam obso- letos quase que instantaneamente. Numa inversão do que se costuma considerar: “A insatisfação é o fim e os objetos os meios adequados a esse fim .(...) o que importa, nos produtos industriais, é a sua renovabilidade. A insatisfação investe no que é des- cartável, porque este investimento garante a sua própria reprodução. A afinidade eletiva entre sentimen- talismo e consumismo consistiria no fato de o indivíduo desejar a própria insaciabilidade emocional .” (Freire Costa, Idem, p. 145) A valorização aparentemente para- doxal da insatisfação teria derivado da transição de valor: ao invés de buscar a satisfação, passa-se a bus- car prazer, como já havíamos dito anteriormente. COMO REAÇÃO À MORAL PROTES- TANTE,TÃO RÍGIDA E VOLTADA PARA A ACUMULAÇÃO, UMA ONDA “SEN- TIMENTALISTA” TERIA SE AFIRMADO. “A INSATISFAÇÃO É O FIM E OS OBJETOS OS MEIOS ADEQUADOS A ESSE FIM .(...) O QUE IMPORTA, NOS PRODUTOS INDUSTRIAIS, É A SUA RENOVABILIDADE. A INSATISFAÇÃO INVESTE NO QUE É DESCARTÁVEL, PORQUE ESTE INVESTIMENTO GARANTE A SUA PRÓPRIA REPRODUÇÃO. A AFINIDADE ELETIVA ENTRE SENTI- MENTALISMO E CONSUMISMO CONSISTIRIA NO FATO DE O INDIVÍDUO DESEJAR A PRÓPRIA INSACIABILIDADE EMOCIONAL.” Pintura: IL NARCISO DI CARAVAGGIO John Calvino 90 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2007

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx