Revista da ESPM MAR-ABR_2007

98 R E V I S T A D A E S P M – MARÇO / ABRIL DE 2007 Coca-Cola por seus consumidores fotografados em seu local de esto- cagem, buscando retratar o contexto do cômodo e as condições de acesso à sua localização. Foi ainda entrevistado umdosmaiores colecionadores brasileiros de objetos de Coca-Cola, bem como descrita e fotografada a sua coleção.A entrevista foi realizada por três horas no local onde é estocada a sua coleção. Para fazer uma biografia dos ob- jetos, Kopytoff (2003) nos orienta a realizar as mesmas perguntas feitas às pessoas de maneira a encontrar as trajetórias: De onde vem esta coisa? Quem a fez? Como ela che- gou até aqui? O que é uma trajetória ideal para esse tipo de coisa? Desta forma, o método escolhido interes- sou-se nas coisas, seus percursos, entradas e saídas da vida das pes- soas. O roteiro era flexível e aberto para dar espaço na entrevista para deixar fluir o relato biográfico do produto até o presente. Adicional- mente, foi investigada a biografia dos entrevistados, suas histórias de vida, lembranças, estrutura familiar para determinação do contexto das biografias dos objetos. IV. AS ESTRATÉGICAS DE CONSTRUÇÃO DE SINGULARIDADES Diversos objetos relacionados à marca Coca-Cola estão presentes nos domicílios investigados. Eles apresentam formas e origem di- versas. Alguns constituem uma parte da mercadoria em si, como embalagens vazias, rótulos, tampi- nhas. Outros são brindes ou outros objetos promocionais, obtidos pela participação de promoções realizadas pela empresa para seus consumidores (garrafas miniaturas, bonecos). Alguns elementos não são mesmo coisas, mas são gestos, músicas, brincadeiras que povoaram as lembranças infantis. Todos esses objetos são manipulados pelos con- sumidores de formas variadas, sendo inseridos em histórias pessoais e, desta forma, sendo singularizados. É o momento de sua biografia onde o objeto perde seus traços de mer- cadoria, perde todo valor monetário, para ter valor, unicamente, dentro da história de uma vida particular. Esta história, por fim, torna-se igual- mente diferenciada por incluir um objeto que, normalmente, constitui uma mercadoria serializada dis- ponível como mercadoria a todos. Essa apropriação particular, singu- lariza, por sua vez, o indivíduo que a realiza. Para realizar tal coisa, os entrevistados utilizam estratégias diversas de apropriação que serão descritas a seguir. ESTRATÉGIA 1: ACESSO AO PRIMEIRO MUNDO OU AO DESENVOLVIMENTO Essa estratégia consiste em estabele- cer, através do objeto, um acesso com o mundo estrangeiro, especial- mente do primeiro mundo. Para as gerações mais jovens, essa estratégia vai passar pela compra de objetos vindos do exterior, adquiridos em viagens, ou recebidos como pre- sentes. Esses objetos, devidamente expostos em seu cotidiano aos indivíduos de seu círculo de con- vivência, fazem testemunho de um acesso particular ao mundo Diversos objetos relacionados à marca Coca-Cola estão presentes nos domicílios investigados. Eles apresentam formas e inscrições de países diversos. Maria (18 anos) apresenta uma série de objetos trazidos, por pessoas de sua família, dos EUA: um fichário e várias canetas Coca-Cola.

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