Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 101 } Em l ongo pra zo, o p l ano para o Bras i l envo l ve a questão da reformul ação do amb i ente, do ar ranj o inst i tuciona l , das organi zações e das inst i tuições ~ commodities minerais, metálicas e energéticas. O que teria sido do Brasil sem o boom de commodities de 2004 a 2010? Ganhamos um prêmio de loteria, um caminhão de dinheiro com isso. Fizemos a conta: de 2004 a 2010, só pelos termos de intercâmbio, diferença do cresci- mento dos preços de exportação em relação aos de importação, o Brasil ganhou US$ 100 bilhões. E isso teve um efeito multiplicador na economia que poderia ser estimado em algo próximo de US$ 1 trilhão – que permitiram encadeamentos importantes na economia. O Brasil acumulou US$ 370 bilhões em re- servas cambiais e fez um programa de crédito espetacular. Os progra- mas sociais também tornaram-se exemplares. Tudo isso foi, em gran- de medida, graças a esse prêmio. Não tiro o mérito, a competência e o talento do Governo Lula, que teve a sacada de aproveitar a opor- tunidade para promover algumas mudanças sociais que precisavam ser feitas. No caso da indústria, a questão é mais complexa, porque todo esse ciclo bom de commodities levou à apreciação da nossa moeda, o que é natural. Todos os países produtores de commodities, inclu- sive Austrália e Canadá, tiveram suas moedas valorizadas. Ocorre que, desde 2008, essa crise vem le- vando a uma ociosidade imensa das indústrias em todo o mundo, que está abarrotado de produtos manu- faturados. Hoje, a indústriamundial opera com28milhões de automóveis em ociosidade de produção e cerca de 450 milhões de toneladas de aço tambémemociosidade. Os produto- res demanufaturados de todomundo estão, desesperadamente, em busca de mercados em expansão, onde te- nha demanda. AAmérica Latina está indo bem, o consumo das famílias no Brasil está crescendo a 5%ao ano, nos últimos dez anos, segundo dados do IBGE. Em 2011, o PIB cresceu 2,7%, enquanto o consumo das famílias teve umaumento de 4,1%em relação ao ano anterior. Costumo dizer que o consumo das famílias é o PIB do povo. A sensação térmica é agradável. Mas a pressão mundial para atender a essa demanda é imensa e o Brasil é, de certa forma, vítima dessa pres- são de importações vindas de todo o mundo, assim como todos os países em desenvolvimento, que também estão sendo pressionados. Todos querem vender aqui e a presença de produtos estrangeiros no mercado brasileiro aumentou consideravel- mente. Uma pesquisa que fazemos desde 2005 indica que hoje estamos no ápice histórico de incômodo do empresário brasileiro, principalmen- te do setor industrial, em relação ao produto importado. MARCONINI – Não estamos nos preparando para o pós-crise. Esse é o problema. Há uma espécie de euforia com relação à agricultura, minérios e energia. OCTAVIO – Isso porque o país está defensivo, neste momento. ILAN – Há algum tempo, lembro-me de ter ouvido que as crises macroeconômicas eram crises de superabundância. E as crises só se resolvem quando se queima uma reserva importante de capital e de capacidade ociosa. SERGIO – Não sabemos quando o atual ciclo de alta dos preços das commodities acabará, mas não deve dura r pa ra sempre. Uma antiga tese econômica, a “tese de Prebisch e Singer”, diz que a elasticidade, renda de produtos industriais, é maior que a de pro- dutos primários. Isto é, quando a renda das famí lias aumenta, a demanda por produtos manu- faturados cresce mais do que a demanda por bens primários. O debate sobre desindustrialização é um pouco mal colocado. Inte- ressa saber que tipo de herança o atual ciclo de alta dos preços das commodities deixará para a economia brasileira, que tipo de infraestrutura teremos, como es- tamos aproveitando esse prêmio... OCTAVIO – Durante algumas déca- das, o Brasil continuará sendo o principal fornecedor da China. O Brasil celebrou um acordo com o governo chinês para ser o principal fornecedor do Projeto de Segurança Alimentar e de Segurança Energé-

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