Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 103 } Não temos uma indústr ia de transformação ou uma estra- tégia clara de crescimento ~ algo mais rápido. Além disso, temos de pensar em comércio exterior não só como tarifa, produto ou agricul- tura. Comércio exterior também é serviços. A grande oportunidade é a exportação de serviços, uma vez que o Brasil é uma potência nessa área. O setor responde por 60% do PIB, é competitivo e sofre muito menos com nossas crises. Porém, nossa exportação de serviços – que também inclui a área de investi- mentos – ainda é insipiente. Quan- do negociávamos na Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou até mesmo no Mercosul (Mercado Comum do Sul), os temas de servi- ços e investimento, o Brasil sempre apresentava resistência. OCTAVIO – Nossa experiência prática no Mercosul é um fracasso? MARCONINI – Depende. OMercosul não cumpre sua finalidade original que era a de liberalizar o comércio entre os sócios e agir como um mercado único vis-à-vis o mundo. Grande parte do fracasso se deve à plena politização de todos os assuntos econômicos do bloco. Passamos todo nosso tempo nego- ciando politicamente a eliminação ou atenuação de barreiras tarifárias ou não-tarifárias entre os sócios. Não há uma visão de futuro, uma visão de parceria, uma visão de mundo. Precisamos saber qual é a linha mestra e o que queremos como economia da região. OCTAVIO – São países com econo- mias muito diferentes. Enquanto o Brasi l está preocupado com o fluxo de capital apreciando o câmbio, a Argentina v ive uma fuga de capitais. É difícil imagi- nar um entendimento. MARCONINI – E a cada crise nos diferenciamos mais. OCTAVIO – Supostamente eles con- trolam o câmbio, mas tem um dé- ficit comercial imenso com o Brasil. SERGIO – Gosto da frase de Celso Lafer (ex-ministro das Relações Ex- teriores), que dizia que “o Mercosul não é uma opção, é um destino “. OCTAVIO – Juntos, Peru e Colômbia, se continuarem nessa trajetória, em 10 ou 15 anos deverão ultrapassar a Argentina. Sinto que estamos vivendo um momento de transição no modelo de crescimento, que no Brasil foi baseado na inclusão social. Esse modelo vai continuar tendo um papel de destaque, até mesmo porque a redução da desigualdade terá ainda um efeito extraordinário na economia. Hoje, o país está mais arrumado, estável e com segmentos médios mais consolidados. Mas o Brasil precisa encontrar outros vetores de crescimento que tenham a ver com reformas para melhorar a produtividade. Nunca acreditei em revoluções reformistas, mas vamos precisar dar um salto. Só que, neste momento, diante da crise internacional, passou um cavalo selado na frente do governo e ele resolveu montar. É a oportunidade de se mudar o mix de política eco- nômica a favor de taxas de juros mais compatíveis com o que se pratica no mundo emergente e uma taxa de câmbio menos apreciada. A questão fundamental é garantir sustentabilidade a esse novo “mix de política econômica”. Para isso,
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx