Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 11 S o f i a E s t e v e s ‘ Antônio Delfim Netto com as suas virtudes. O sistema financeiro foi construído para servir ao sistema pro- dutivo, mas o primeiro acabou dominando o segundo e adquirindo vida própria. A origem da crise atual foi a descoberta de certos mecanismos que, supostamente, eram capazes de calcular riscos e acelerar dramaticamente a competição por meio de formas mais ef icientes de f inanciar a produção. Ao contrário do previsto, a produção foi posta de lado e o sistema financeiro se desenvolveu, o que elevou o risco ao paroxismo. Quando se descobriu que o risco poderia ser estimado, passamos a ter uma curva com abas mais gordas, que ampliaram o risco pela própria tentativa de eliminá-lo. À medida que se acreditava ter superado determinado risco, outros apare- ciam e mudavam a distribuição dos riscos originais que deram origem à primeira fór- mula. No momento em que houve uma dis- funcionalidade geral, o mercado acordou e o sistema quebrou devido à inadvertência e à falta de cuidado com que se examinaram as tentativas de se eliminar o risco. GRACIOSO – A crise de 2008 é um repique da crise de 1929? DELFIM – Não, é uma reprodução dela. Ao examinar as causas da crise de 1929, o Relatório Pécora mostra que o ocorrido teve consequências mais sérias para os banqueiros. Na época, o presidente do City foi preso e o presidente do JP Morgan saiu de cuecas do Congresso. Agora, a história se repete de forma diferente. Isso porque o sistema financeiro, deixado a si mesmo, volta ao local do crime, com os banqueiros se protegendo, obtendo empréstimos pri- vilegiados e correndo riscos demasiados. Depois de 1929, a intervenção de Franklin Roosevelt [ presidente dos Estados Unidos de 1933 a 1945 ], deu or igem a uma lei para controlar o sistema e separar bancos comerciais de bancos de investimento. Isso funcionou por 30 anos até que o setor financeiro adquiriu força suficiente, com base na ideia de que o mercado é capaz de produzir seu próprio equilíbrio. J.ROBERTO – Os mecanismos regulató- rios intrínsecos. DELFIM – O mercado teria um imperati- vo categórico que o impediria de fazer patifar ias. Os economistas ajudaram a construir essa teoria e o sistema financei- ro foi apropriando-se do sistema político americano. As crises são ínsitas ao capita- lismo porque a oferta e a procura não são coisas instantâneas. Se o mercado quer cobre, preciso de cinco anos para extrair e preparar esse material. Existe um inter- valo entre o aparecimento da demanda e o surgimento da oferta, que produz um ciclo. Mas é preciso considerar que o homem é instável – sempre está muito entusiasmado ou em depressão. Implícito na economia, o ciclo é somado ao ciclo do homem e pro- duz flutuações, mas ainda assim continua crescendo. O que aconteceu em 2009 foi a descoberta de erros brutais que acabaram com a coisa mais importante da economia, a confiança. O Lehman Brothers quebrou e o mundo parou. Um banco não emprestava mais para o outro porque queria liquidez para se salvar. O empresário recebia um estímulo do governo, mas, em vez de in- vestir, pagava suas dívidas também para } O sistema f inancei ro foi construído para servi r ao sistema produt ivo, mas o pr imeiro acabou do- minando o segundo e adqui r indo vida própr ia ~
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