Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 12 E N T R E V I S T A ter liquidez. O t rabalhador dei xava de comprar porque tinha medo de perder o emprego. Diante do pavor da crise, esses três públicos procuravam a mesma coisa: liquidez. O paradoxo desse processo é que o excesso de liquidez leva todos à morte. As empresas morrem afogadas na liqui- dez, porque o dinheiro não circula e isso destrói o sistema. J.ROBERTO – É uma descr i ção mai s dir igida do que aconteceu nos Esta- dos Unidos. DELFIM – E que se estendeu pela Europa, que é o melhor projeto político do século XX, mas mostrou que aqueles países, apa- rentemente, estavam em situação razoável, mas na verdade tinham escondido uma situação de liquidez gigantesca. Como a Grécia pôde fazer a dívida que fez? Ela entrou no euro, fixou o dracma, que se valorizou, e os salários cresceram mais depressa do que na Alemanha... GRACIOSO – Um deputado grego custa duas vezes mais do que um deputado alemão. DELFIM – E les conseg u i ram fazer i sso porque, antes de aderir ao euro, a Grécia pagava 12% de taxa de juros de sua dívida. Quando entrou no euro, tomou um gole de Coca-Cola, deu uma “cheiradinha” e achou que iria ficar igual à Alemanha. A taxa de juros do papel grego veio para 3% e o grego, em vez de usar essa vantagem para arrumar a parte interna, acabou consumindo mais. J.ROBERTO – O dinheiro ficou muito mais fácil para eles. DELFIM – Sim. E os financiamentos con- tinuaram existindo porque o déficit foi escondido, com a colaboração das agên- cias de risco e dos agentes financeiros, que estavam ganhando bilhões de dólares de comissão. GRACIOSO – Qual seu prognóst i co a respeito dos rumos do “capitalismo de Es t ado”, que es t á presente no modelo chinês? DELFIM – Imaginar que possa existir uma economia de mercado sem a participação do Estado é uma ideia puramente ideológi- ca. O mercado depende de instituições que somente o Estado pode garantir. A ideia de deixar o mercado funcionar sem restrição não existe nem na teoria de Adam Smith, um intervencionista que não acreditava ser possível deixar o sistema agir livremente. Segundo ele, os empresários acabam “ca- sando” seus filhos entre si e criando um monopólio. O Estado sempre fez parte da economia. Nos Estados Unidos, por exem- plo, o Estado teve um papel decisivo no desenvolvimento da nação. Lá, Alexander Hamilton [ primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos ] fez em 1789 o que só fizemos em 2008, no Brasil. Ele pegou toda a dívida dos Estados, que tinha sido feita na guerra e disse: “Vamos pagar tudo, só que vou emitir um papel federal e vocês não terão mais direito de emitir dívidas próprias.” Com isso, Hamilton organizou a economia americana por meio de uma Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso é o que a economia europeia precisa para se organizar, só que lá ex iste o problema de soberania. Agora há o paradigma de } O que aconteceu em 2009 foi a descober ta de erros brutais que acabaram com a coisa mais impor tante da economia, a conf iança ~
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