Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 13 S o f i a E s t e v e s Antônio Delfim Netto Beijing, que é o capitalismo de Estado. Na verdade, a própria China está saindo desse modelo, que é muito eficiente, tem uma fórmula de organização que funciona, mas o homem não possui total liberdade. Hoje, na China, as pessoas têm liberdade para investir e gastar, só não possuem liberdade para falar mal do Governo – isso até na universidade já existe. O teorema de Paul Samuelson diz que “quando está todo mun- do em livre concorrência, vale a pena ser monopolista”. Por exemplo: uma empresa estatal chinesa compra minério de ferro no Brasil, leva para a China num navio estatal e usa, como lastro, produtos chineses, de forma que o produto que está trazendo para cá não tem custo de transporte por- que é lastro do navio. Lá, esse minério de ferro vai para uma indústria de aço que é do Estado e, no fim, produz um torno. O preço desse torno é político e não tem nada a ver com o mercado. Para competir comi- go, o chinês vende pelo preço que quiser. Esse mecanismo foi muito eficiente para o crescimento. Não critico a China. Tenho até certa inveja dos mecanismos de sua orga- nização econômica, mas ela está longe de ser uma economia de mercado. Agora, toda economia de mercado precisa de um Estado constitucionalmente controlado, que crie instituições adequadas. É natural que a China seja a segunda potência econômica e também a segunda potência militar do mundo. Não tem remédio, porque todo Es- tado procura ter autonomia em três áreas: alimentar, energética e militar. O chinês não tem a alimentar nem a energética. Já os Estados Unidos perderam a energética, mas têm a alimentar e a militar. Essa dis- puta vai continuar, o que não significa que vai terminar em guerra. Eu confio mais na inteligência da humanidade. GRACIOSO – O neoliberalismo de Mil- ton Friedman fez bem ou mal para a economia? DELFIM – Na verdade, ela é uma grande combinação de pensamento ideológico com certa pretensão científica. Um exemplo disso é o trabalho de Gary Becker [ Prêmio Nobel de Economia, ele foi um dos primeiros a estudar o capital humano, a economia da família e o comportamento econômico do cri- me ]. Ele exagera e ultrapassa o conceito ao aplicar a economia no processo de divórcio, de desenvolvimento demográfico. Já Mil- ton Friedman [ economista americano que é considerado um dos pais do neoliberalismo ] foi um homem brilhantíssimo, mas duvido que ele defendesse o sistema atual ou a forma como ele foi construído. Ele gosta- va da liberdade, mas tinha consciência de que sem um Estado constitucionalmente controlado, não há mercado que funcione. O Estado é fundamental para produzir alguns bens que não podem ser feitos pelo setor privado, são bens públicos que todos devem receber. GRACIOSO – O Estado deve ser respon- sável pelas prioridades. DELFIM – O Estado precisa criar um am- biente adequado para permitir que a so- ciedade desenvolva-se com certa rapidez. Algumas pessoas dão ao Estado o caráter de onisciente, podendo ser também onipo- tente. Outros, como eu, desconfiam disso. } A Teor ia da Escolha Pública mostra que o Esta- do é tão cor rupto quanto o indivíduo. Aquele que está no poder cuida pr imeiro de seus interesses ~
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