Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

O stamos entrando no quinto ano de crise no centro do sistema econômico co- nhecido como capitalista, ou, em uma expressão mais moderna, como de economias de mercado. Nos Estados Unidos – a maior das econo- mias de mercado – apesar de agressivos estímulos fiscais e monetários, o desemprego ainda supera os 8% da população economicamente ativa. E a relação entre o número de americanos que estão empregados, ou à procura de um posto de trabalho, e a população total nunca foi tão baixa desde que essa estatística passou a ser publicada. O esforço fiscal para se evitar uma repetição da crise conhe- cida como Grande Depressão foi de tal ordem que a dívida total do governo americano deve chegar a 100% do PIB se não houver uma redução expressiva do déficit fiscal nos próximos anos. Na Europa – o berço do capitalismo moderno – a crise não é menos intensa. Os países que adotam o euro estão sendo obrigados a realizar cortes profundos em seus orçamentos de gastos em um ambiente de recessão econômica. Dada a fragilidade dos mercados de títulos soberanos – principalmente depois da moratória da dívida grega – não existe outro caminho a seguir. Mas os custos sociais desse ajuste em termos de queda de renda real, dado o aumento expressivo do desemprego, serão enormes. Na Ásia, o Japão sofre umnovo impacto recessivo via suas exportações para o chamado G7 e aprofunda a sua já longeva deflação contribuindo para o baixo crescimento no mundo desenvolvido. Nesse contexto de crise e sofrimentos, voltam ao debate econômico as previsões de uma crise terminal do chamado sistema capitalista. A diferença desta vez, em relação aos tempos passados, fica por conta da inexistência de um sistema alternativo como o que Ponto de vista sempre representou a utopia socialista. O sistema de economia de mercado é o único disponível para as sociedades neste início de século e uma reforma de seu quadro institucional, incorporando as lições da crise que vivemos, é a única saída possível. O chama- do capitalismo demonstrou ser um sistema eficiente para gerar riquezas, embora traga, no seu interior, uma dinâmica de crises frequentes e que precisam ser enfrentadas quando ocorrem. Vários pensadores já nos advertiram quanto a isso, mas, de tempos em tempos, a euforia dos bons momentos leva gerações de líderes a esquecer esses ensinamentos. A crise que vivemos agora nasceu da combinação de um longo período de crescimento econômico na maioria dos países – inclusive no mundo emergente – e de uma histeria liberal que destruiu boa parte do sistema de proteção contra excessos especulativos. O enfraquecimento de regulamentos e restrições, principalmente no sistema financeiro do primeiro mundo, abriu espaço para ocorrência de bolhas especulativas de grande poder de destruição como a que atingiu o mercado imobiliário nos Estados Uni- dos. Sabemos por experiências anteriores que, nesta situação, a única alternativa é o aumento dos déficits fiscais e a utilização agressiva da expansão mone- tária primária por conta dos Bancos Centrais. Mas agora, o nível já elevado de endividamento público nos países do G7 está criando tensões em relação à solvência de nações que até então eram consideradas imunes ao risco de defaults e renegociações de seus termos. Talvez seja esta a grande diferença em rela- ção às crises sistêmicas que ocorreram no passado. Em contrapartida, o vigor das chamadas economias emergentes e que não sofreram dos mesmos males da falta de regulação em seus mercados financeiros pode representar o caminho que permita ao capi- talismo sair de mais esta crise. Luiz CarlosMendonça deBarros -Sócio-fundadoreestrategistadaQuest Investimentosearticulistado jornal Folha de S.Paulo . Engenheiro e economista, foi Ministro das Comunicações, presidente do BNDES e diretor do Banco Central do Brasil LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Os novos rumos do capitalismo E ES PM

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