Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 14 E N T R E V I S T A Imagine um problema econômico em que o setor privado está envolvido, o Estado está envolvido também, os agentes são os mes- mos. O fato de ele estar no setor público não aumenta sua capacidade de apreensão da realidade. A ideia de que o Estado é sempre muito mais sábio do que o mercado é falsa, como é falsa a ideia de que o mercado é sempre melhor do que o Estado. J.ROBERTO – Não existe certo exagero nessa dicotomia de achar que é per- missível e correto o setor privado bus- car o interesse próprio e que no Estado todos são virtuosos e só procuram o bem comum? DELFIM – A Teoria da Escolha Pública mos- tra que o Estado é tão corrupto quanto o indivíduo. Aquele que está no poder cuida primeiro de seus interesses. Não é interesse material, é o interesse do próprio poder. Mas só a sociedade é que conhece as suas necessidades. É por isso que precisamos de um Estado constitucionalmente controlado. GRACIOSO – Onde as leis estão acima dos indivíduos. DELFIM – Exatamente. A Constituição do Brasil de 1988, com todos os seus problemas e as suas extravagâncias, tem três vetores. Primeiro, ela estabelece uma República, na qual todos estão sujeitos à mesma lei, inclusive o Governo. Nisso, o Brasil tem uma vantagem sobre os outros emergentes, porque deve ser o único país emergente no qual o Supremo Tribunal Federal não escuta a voz da rua – que sempre quer vingança. Também aperfeiçoamos o sistema demo- crático e talvez sejamos o país com mais perfeição e menos corrupção no processo eleitoral. Quando você vota numa máquina não tem como cometer fraudes. Um país do tamanho do nosso, com 8,5 milhões de km 2 e 200 milhões de habitantes, faz a apu- ração de uma eleição em 24 horas. Para ter uma sociedade razoavelmente justa, nossa Constituição é a única que reza que saúde e educação são universais e gratuitas. Ainda não temos nenhuma das duas, mas esse é um objetivo. A educação foi o que transformou o macaco em homem e a saúde permite ao homem gozar a sua humanidade. GRACIOSO – Delfim, com frieza e isenção, a educação e a saúde, nos últimos 30 anos, melhoraram muito. DELFIM – Não tenho a menor dúvida. Es- tamos vivendo uma revolução e ninguém percebe. Não há nenhuma empresa hoje que não tenha um professor, após 16 horas, ensinando que on é liga e off é desliga. Há um processo importante em andamento na área da saúde. Estou convencido de que os dois problemas são muito mais de adminis- tração do que de recursos. Você sente isso claramente na escola bem administrada, que funciona melhor e os alunos aprendem. Isso é visível também nos hospitais. Veja que, quando o Governo cede um hospi- tal público para uma instituição privada dirigir, as coisas mudam completamente. O problema é que servidor público não se sente um servidor público, mas um em- pregado privilegiado que conseguiu um buraco no Estado e assumiu a condição de intocável, uma vez que não pode ser demitido e conta com a possibilidade de ter aposentadoria integral. } O mundo não vai acabar, a economia de mer- cado também não, porque até hoje não se des- cobr iu nenhum subst i tuto para ela ~

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