Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 15 S o f i a E s t e v e s Antônio Delfim Netto GRACIOSO – Certa vez, um alto executivo de uma estatal de Brasília disse que somos todos pré-aposentados. DELFIM – Como chegamos nesse ponto? Veja a dificuldade para aprovar o projeto de aposentadoria dos novos ser v idores públicos. Todos os sindicatos estão ten- tando defender o sistema v igente porque muitos vão se aposentar e cerca de 200 mil vagas serão abertas no setor público, cuja idade média hoje dos profissionais é de 56 anos. Essa gente nova chega muito mais preparada. GRACIOSO – Como o Brasil fica diante dessa turbulência econômica e f i- nanceira? DELFIM – O Brasil é parte do mundo e terá de pagar o preço. O país terá suas difi- culdades, a taxa de crescimento provavel- mente será menor, mas creio que estamos bem protegidos dessas turbulências. Em primeiro lugar, os Estados Unidos estão saindo da crise antes dos outros países porque cont inua sendo o ú lt imo luga r onde tem inovação e crédito. A Europa vai demorar uns cinco anos para melhorar. A China vai permanecer pendurada como está nos Estados Unidos e talvez reduza um pouco seu crescimento, mas o mundo vai continuar crescendo. GRACIOSO – A própria China continua crescendo. DELFIM – Claro. O crescimento do mundo demográfico é da ordem de 0,7% ao ano. São mais de 300 milhões de pessoas que surgem, anualmente, para comer, beber e se educar. Os poderes funcionam e são independentes. Temos o crescimento da classe média, que é composta por 40 mi- lhões de pessoas, e está transformando a distribuição do Brasil em um formato de losango. Esse público sabe que a única forma de subi r na v ida é por meio do conhec imento, por i s so colocam seus filhos na escola, qualquer que seja o sa- crifício. Temos uma política monetária e fiscal bastante razoável, em comparação ao resto do mundo. Mas não temos feito algumas reformas importantes para f le- xibilizar o funcionamento dos mercados por meio de um ambiente mais propício para os negócios... GRACIOSO – E que permita à iniciativa privada entrar nas áreas hoje reser- vadas ao Estado. DELFIM – Houve um avanço enorme, com a concessão de três aeroportos e o Governo está aprendendo que é preciso cooptar o setor privado. O Banco Central do Brasil tem muscu lat u ra pa ra da r ao si stema bancário – que é rígido e bem controlado – condições para continuar a f inanciar todo esse processo de crescimento. E , assim, convencer os empresários de que podem continuar investindo porque vai haver crescimento e os trabalhadores de que podem continuar consumindo, por- que vai ter crédito e eles terão emprego. Não podemos cuidar só da demanda ou da distribuição. É preciso cuidar da oferta, que vem, basicamente, do suporte dado ao setor privado. Estamos muito bem de crédito e tenho uma enorme confiança na presidente Dilma Rousseff, uma tecno- crata que leu os mesmos livros que nós. } Quando o demagogo diz que não pode mexer na caderneta de poupança, mas deixa a taxa de juros a 9% ao mês, ele está prejudicando o cidadão ~
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