Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 16 E N T R E V I S T A GRACIOSO – Gostei muito da capacidade que ela teve em público na Alemanha, ao identificar o “tsunami” financeiro como maléfico para nós. DELFIM – Sim. Mas Angela Merkel respon- deu: “Vocês são protecionistas”. E a posição dela foi correta: “O meu protecionismo é em legítima defesa ao teu ataque”. Essa que é a verdade. J.ROBERTO – O imperialismo. DELFIM – Alguém duvida que isso é uma guerra cambial e que Mario Draghi [ pre- sidente do Banco Central Europeu ] quer o euro a US$ 1,15? Alguém pode ter dúvi- das de que o Obama está fazendo uma política deliberada de desvalorização do dólar? Basta ler a mensagem do dia 20 de janeiro: “Nosso programa vai bem”. Qual é o programa? Dobrar as exportações nos próximos cinco anos. Estamos tendo suces- so, porque no primeiro ano já aumentamos 10%, mas por meio da desvalorização do dólar. E o que estamos fazendo na Europa é uma operação sem anestesia. J.ROBERTO – Cortando a própria carne. DELFIM – A anestesia é a desvalorização cambial. Se desvalorizo o câmbio, corto o salário em 40% e você vai queixar-se ao Bispo, não sabe de onde veio o corte, não tem contra quem reclamar, é algo genérico. Se falo que, para conseguir o equilíbrio, não posso desvalorizar 40% a minha moeda, mas vou cortar 30% do seu salário, você vai enlouquecer. Detroit voltou a ser Detroit, porque lá as coisas funcionam de outro jeito. Disseram: “Doutor, aquele negócio que fizemos até hoje não vale mais. Aquele fundo de pensão que você tinha e ia lhe pagar US$ 45 dólares por hora quebrou. Seu salário era de US$ 25 dólares por hora, mas se quiser trabalhar por US$ 15, há emprego.” Está funcionando, eles estão co- meçando novamente a vender automóveis e a ocupar outra vez o mundo com suas ino- vações. Os Estados Unidos têm um sistema muito mais flexível do que os outros e que aguenta esse tipo de coisa. O Brasil não aguentaria isso, porque o Estado não tem condições de sustentar esse tipo de decisão do setor privado. A solução para a Europa é mais dolorosa porque é visível. De fato, os gregos comeram mais do que deviam, mas não há como descomer. É preciso encontrar um mecanismo para voltar ao equilí brio. O mundo não vai acabar, a economia de mercado também não, porque até hoje não se descobriu nenhum substituto para ela. Como dizia o velho Winston Chur- chill [ ex-primeiro-ministro britânico ] com relação à economia: “É a pior de todas, mas melhor que todas as outras”. J.ROBERTO – Economia de mercado é até uma redundância, porque não há economia sem mercado. DELFIM – Não, você pode ter algo como na Rússia, com uma economia centralizada. Aliás, essa sua obser vação é interessan- te, porque economia de mercado é uma } A Europa va i demorar uns cinco anos para melhorar. A China va i permanecer pendurada como está nos Estados Unidos e talvez reduza um pouco seu crescimento, mas o mundo vai cont inuar crescendo ~

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