Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 17 S o f i a E s t e v e s Antônio Delfim Netto ES PM economia em que o sistema de preços tem consequência. J.ROBERTO – Delfim, você fez uma ob- ser vação que não está diretamente ligada ao nosso tema, mas me reme- teu ao fato de eu ser um paulista de duas fases. Meus pais são paulistas, mas f oram para o Rio de Janeiro, onde morei por mais de 30 anos. Há dez anos voltei para São Paulo e tive um reencontro com uma caracterís- tica interessante da cidade, que é a presença do imigrante. Nesse meio tempo, fiz um trabalho sobre Montei- ro Lobato e mergulhei um pouco na história dele. Quando você diz que o brasileiro aprendeu que colocar o filho na escola é o melhor a fazer, isso me parece um eco de influxo, de influência cultural dos imigrantes que hoje estão na terceira geração, e o professor Francisco Gracioso é um bom exemplo disso. Existe alguma relação entre a influência cultural desses imigrantes e a nova mentalidade do brasileiro? DELFIM – Hoje eles estão internalizando isso. Eu morava no bairro do Cambuci, em São Paulo, e minha família era pobre. Minha mãe costurava para fora, meu pai trabalhava e a maior preocupação deles era fazer os f i l hos est uda rem. Já essa classe emergente – descoberta pelo Bolsa Família e demais programas sociais – foi sendo construída. O Brasil deve ter sido o único pa ís a dar aposentador ia para todo idoso com mais de 70 anos que vive no campo. E isso foi no tempo do Regi- me Autoritário. Sempre brinco que me disseram que eram 700 mil pessoas, mas quando fomos cotar eram sete milhões de brasileiros. Essa gente, que se identifica como classe média, já internacionalizou o fato. Atualmente, estamos discutindo a questão da caderneta de poupança, que ficou acessível a esse público. A pessoa deposita R$ 1.000 – dinheiro que foi sendo poupado por meio de uma economia de R$ 15 ao mês – para usar em um dia de difi- culdade e recebe 6% desse valor. Mas essa mesma pessoa deve R$ 2.000 ao sistema financeiro. Neste caso, ela está recebendo 6% ao ano e pagando 9% de juros ao mês. Se disser que os juros serão reduzidos para 3% e 20% ao ano, respectivamente, o ganho será absolutamente extraordinário. J.ROBERTO – É difícil passar essa informação. DELFIM – É prec i so educa r a pessoa e ajudá-la a entender que ex istem os dois lados. Mostrar que quando o demagogo d i z que não pode mexer na caderneta de poupança, mas dei xa a taxa de juros a 9% ao mês, ele está prejudicando o ci- dadão. Estamos num processo crescente de esclarecimento. GRACIOSO – Não tenho dúvidas. A nova classe emergente que vem por aí é a chamada classe D, porque a classe C já se integrou ao sistema. O proces- so continua com mais 20 milhões de pessoas ingressando no mercado de consumo. Obrigado, Delfim, foi uma alegria revê-lo. } Estamos num processo de mudança, mas é sempre na mesma di reção: aumentar a l iberda- de do homem e a ef iciência do tempo que ele dedica à sua subsistência ~

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