Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 35 S o f i a E s t e v e s ‘ excesso. Na época, havia uma discussão muito grande sobre essa bolha, o Banco Central Americano discutiu isso... GRACIOSO – Por várias vezes, o Greens Bank fez advertências claras, só não entendeu quem não quis. SARDENBERG – Ele fez advertências em relação ao mercado de ações, mas se estava convicto de que havia uma bolha no endivi- damento imobiliário deveria ter começado a subir os juros. O FED alegou não ter subido os juros porque a inflação estava baixa e o Banco Central não combate bolhas e sim a inflação. Enquanto uma bolha se formava por excesso de endividamento entre as em- presas e o governo, havia um crescimento sustentável. São US$ 14 trilhões de crédito imobiliário, uma verdadeira bomba, porque, quando há uma inadimplência, surge um problema para toda a economia. Ao reduzir os critérios de concessão de empréstimos, Bill Clinton realizou uma interferência política na atividade econômica e com essa medida ganhou a eleição. GRACIOSO – Dois países estão reagindo melhor a essa crise: a China com seu capitalismo de Estado disfarçado; e a Alemanha, que está salvando a Europa. Como você vê essas duas economias tão distintas aproveitando a nova conjuntura? SARDENBERG – A China é um animal mui- to diferente de todos. É uma região muito diversificada, com situações econômicas diferentes, onde Xangai tem padrão de vida europeu e o interior da China é mais pobre que a África. A China se desenvolveu não por causa do Estado, mas do mercado. GRACIOSO – Interno. SARDENBERG – Exatamente. O teor das re- formas que Deng Xiaoping [ que governou a China de 1976 a 1997 ], começou a fazer – e que acabaram transformando a China em uma potência econômica – foi o mercado. Ele autorizou, por exemplo, de maneira informal, todos os chineses a montar seu próprio negócio. Restaurantes, fábricas de ferro, fundição e oficinas de automóvel foram criadas nesse período. Hoje, uma das maiores siderúrgicas chinesas é privada e começou com um negócio de fundo de quintal. Outra mudança crucial foi a intro- dução do mercado livre no campo. Antes, toda terra era estatal, coletiva. A família trabalhava na terra e a colheita ia para o governo ou para o partido, que fazia a venda ou a distribuição. Nos anos de 1980, ocorreu a abertura do mercado agrícola e as famílias passaram a plantar e vender qualquer coisa pelo preço que quisessem. A lei continuava dizendo que a terra era propriedade coletiva e não poderia ter um dono. Mas ao juntar quatro pessoas, você passa a ter uma cooperativa que pode ser dona da terra, não com título de proprie- dade fechada, mas no sentido de aluguel. A China não decolou por sua produção estatal e sim pelo lado privado. A terceira perna desse modelo foi a abertura do mercado para receber capital estrangeiro. GRACIOSO – A abertura para o mundo. SARDENBERG – Com essa abertura para os negócios, todo capital estrangeiro privado foi para lá. As empresas americanas e eu- ropeias passaram a produzir na China. É } Mui ta gente comprou casa e o setor imobi l iá­ r i o nos Estados Un i dos cresceu, só que com excesso de end i v i damento ~ Carlos Alberto Sardenberg

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