Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 36 E N T R E V I S T A um modelo de capitalismo, mas o sistema financeiro é predominantemente estatal, os bancos são quase todos estatais. Além disso, quando o sistema começou a andar, na década de 1990, a China promoveu um grande processo de reforma capitalista e milhares de empresas estatais foram priva- tizadas. Como lá é proibido usar a palavra privatização, os chineses chamam isso de reestruturação, uma forma de devolver as empresas ao povo. Os saltos da China em termos de produtividade devem-se a essas reformas no sentido do capitalismo. GRACIOSO – Esse modelo tem futuro ou está perto do esgotamento? SARDENBERG – Esse é o grande debate. Do ponto de vista econômico, o sistema já está mudando. Ele começou parecido com o modelo japonês dos anos de 1950, que foi baseado em muito trabalho, salário baixo, pouco consumo, poupança e exportação. Esse sistema funciona até determinado momento porque, na medida em que o país cresce, vai se formando uma classe operária melhor remunerada. Surge a classe média e os setores começam a pressionar interna- mente por melhores salários e condições de trabalho e de consumo. É a pressão interna, e não a externa, que está fazendo com que a China se mexa. Protestos de trabalhadores começam a surgir por todos os lados. A clas- se média fica mais informada porque viaja, tem internet. Isso cria um caldo de cultura e uma demanda por melhor condição de vida. GRACIOSO – Uma vida melhor. SARDENBERG – Mais renda e mais consumo, é isso que eles querem. E essa pressão in- terna se torna cada vez maior. O relatório da última reunião do Congresso do Povo, do Partido Comunista, com o discurso de Hu Jintao [ presidente da República Popular da China ], mostra que eles têm perfeita consciência disso. Tanto que um estudo foi encomendado ao Banco Mund ia l e apresentado no Congresso do Povo, re- comendando à China ter mais mercado, menos Estado, ma is consumo i nterno, menos poupança forçada. Como eles vão fazer isso, considerando que ela é uma ditadura, é a grande questão... Gracioso – Se seguirem o exemplo do Ja- pão, terão de agregar muito mais valor à produção industrial e isso significa um avanço tecnológico. SARDENBERG – E eles estão fazendo. A Chi- na funde a cabeça dos analistas políticos porque ela parece muito com um caso de despotismo esclarecido, como o regime dos grandes monarcas europeus. O déspota es- clarecido é um rei com uma grande visão de mundo, uma pessoa à frente do seu tempo, que usa seu poder absoluto para aplicar no país mudanças e reformas boas para a so- ciedade. O desempenho do governo chinês, desde o final dos anos de 1970, indica que eles acertam tudo: implantaram uma po- lítica econômica; fizeram alterações nessa política ao longo do tempo; e a economia está se sofisticando... Antes faziam produtos eletrônicos baratos. Agora, estão produzin- do máquinas, equipamentos, turbinas, trens e locomotivas. Fizeram duas transições po- líticas, quando o Deng Xiaoping saiu, uma nova geração entrou e está fazendo uma transição anunciada ao longo de um ano. Sai } Não fo i o Estado que sa l vou a A l emanha , foram as reformas que me l horaram o custo e o amb i ente de negóci os ~
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