Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 37 S o f i a E s t e v e s o primeiro ministro entra outro e o primeiro ministro se mantém como sucessor. Depois sai o presidente e fica como chefe do partido, aí troca o chefe do partido. É uma transi- ção muito bem definida e arrumada. Esse novo governo é composto por engenheiros, tecnocratas, formados nos Estados Unidos. GRACIOSO – Por que a Alemanha está destoando do resto da Europa? SARDENBERG – Basta olhar para o país. Quando caiu o Muro de Berlim, a Cortina de Ferro, a Europa passou a incorporar os países do Leste Europeu, que vieram com a característica de país pobre, salário baixo e mão de obra muito educada, o que é perfeito. GRACIOSO – Indisciplinada. SARDENBERG – Ter gente que ganha pouco e produz bastante é perfeito para uma in- dústria que precisa de produtividade. Com isso, a Europa começou a sofrer o mesmo problema dos Estados Unidos, quando as fábricas americanas mudaram para a China. A Alemanha reagiu muito bem ao movimento quando percebeu que não po- deria competir com o produto barato. Ela passou a investir em produtos de maior valor agregado e alta tecnologia, aprovei- tando todo seu conhecimento tecnológico e científico, além de uma mão de obra qualificada. Ainda assim, o país tinha o problema de salários muito elevados. Eles reduziram o custo-Alemanha congelando os salários, por meio de um grande acordo entre o Governo, as centrais sindicais e as associações de empresários, em troca de não mandarem as fábricas embora do país. Ao mesmo tempo houve uma redução no período do Governo Social Democrata, do custo-Alemanha no ambiente de negó- cios, que tornou sua economia diferente da França. Hoje, a França tem o dobro de funcionários públicos da Alemanha. GRACIOSO – Um deputado alemão custa para o Estado a metade do que custa um deputado grego. SARDENBERG – A Alemanha segurou os salários dos funcionários públicos e da indústria. Houve até um momento em que a Volkswagen ficou numa situação dramá- tica. Quando ela ia transferir suas fábricas para a Polônia, os sindicatos fizeram uma reforma no acordo salarial, cortando vá- rios tipos de vantagens, como os quase dois meses de férias, feriados, folgas e benefícios. Com isso, a Volkswagen deci- diu ficar na Alemanha e o país percebeu que seu negócio era a exportação. Não foi o Estado que a salvou, foram as reformas que melhoraram o custo e o ambiente de negócios. Isso a França não fez, por isso a Alemanha cresce mais do que ela. ANNA GABRIELA – O pior já passou ou ainda está por vir? SARDENBERG – O pior já passou, mas ainda é arriscado dizer, porque no começo de 2010 também afirmamos isso. Aliás, há dois anos, o mundo teve uma boa recuperação, sendo que 2009 foi o pior ano da recessão logo depois da crise financeira. Mas 2010 foi um ano espetacular: o mundo cresceu mais de 5%; a China cresceu 10%; e o Brasil 7,5%. Todos acreditaram no fim da crise. O ano de 2011 começou bem, mas depois tudo piorou: as empresas não investiram e o consumidor } Enquanto uma bo l ha se formava por exces so de end i v i damento ent re as empresas e o governo, hav i a um crescimento sustentáve l ~ Carlos Alberto Sardenberg
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