Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 58 E N T R E V I S T A também investir no exterior. Quando a inflação estava em 40% ao mês, ninguém olhava para a taxa de juros. Agora, uma taxa de juros de 9% ao ano é a maior do mundo e nos incomoda. Se há 20 anos disséssemos que, em duas décadas, o Brasil iria atingir uma taxa de juros de 9% e 6,5%de inflação, ninguémacreditaria. Mas não quer dizer que chegamos ao fim, que acabou a agenda econômica. Naquela época, isso seria umprogresso extraordinário. A inflação foi um problema da minha geração, que se resolveu. Agora temos outra agenda. Mas vejo que tanto o governo quanto a oposição estão inseguros em relação à natureza dessa agenda ou se estão fazendo a coisa certa. Ambos usam templates antigos de pensamento, esse enquadramento neoliberal ou... MARCONINI – Desenvolvimentista. GUSTAVO – Isso empobrece a reflexão, porque são temas novos para os quais os desenvolvi- mentistas do passado não viveram o problema para saber o que dizer a respeito. Já os refor- mistas brasileiros dos anos 90 estudarammuito inflação, mas não o que vinha depois. Hoje, o Brasil tem desafios diferentes. Todos estão tentando compreender essa realidade complexa da melhor maneira possível. GRACIOSO – Equal seria esse próximo passo? GUSTAVO – Não temos mais um g rande tema econômico como era a inflação. Agora, são vários assuntos, sendo que o principal tema macroeconômico – num patamar de importância muito menor do que foi a hi- perinflação –, é a taxa de juros associada ao problema das instituições fiscais de democra- cia madura, que não temos. Logo, o incentivo fiscal é recorrente e nos põe numa situação ruim do ponto de vista de poupança pública e capacidade de investimento do governo, mesmo em políticas sociais, porque não tem dinheiro. Esse é um problema. Antigamente, na universidade, todos queriam estudar in- flação para fazer um plano de estabilização redentor. Hoje, o interesse dos economistas por temas microeconômicos é grande. Os garotos chegam à faculdade para estudar Economia da Saúde, Economia da Educação, Defesa da Concorrência e Sustentabilidade. Temos uma gama maior de assuntos, o que é interessante porque as pessoas que se formam em Eco- nomia seguem diversas carreiras e acabam levando o input da racionalidade econômica para todas as áreas, principalmente a social. Alguns rankings internacionais servem de parâmetro para verificarmos onde estamos. Assumimos uma posição ruim no Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH [ em 2011, o Brasil ocupou a 84 a posição entre 187 países avaliados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud ]. No quesito ambiente de negócios, a tragédia é ainda maior: somos o 122 o em um ranking formado por 180 países. MARCONINI – Emcompetitividade é pior ainda. GUSTAVO – No relatório do IFC (International Finance Corporation), que mede o ambiente de negócios, estamos na posição 126. Isso porque o Brasil tem um sistema tributário confuso, além de leis trabalhistas velhas e que acober- tam cartórios com o imposto sindical, o que é um absurdo. No ranking do IFC aparecem quantos dias se leva para abrir uma empresa no país [ 119 dias no levantamento de 2012 ]. É um escândalo. Outro elementomedido pelo estudo é o custo do capital, que também é tão absurdo quanto o endividamento do setor privado. O } Se há 20 anos disséssemos que, em duas dé- cadas, o Brasi l i r ia at ingi r uma taxa de juros de 9% e 6,5% de inf lação, ninguém acredi tar ia ~
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