Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 59 Gustavo Franco custo do capital é ridiculamente elevado e é óbvio que isso prejudica a competitividade das empresas. O espírito empreendedor do brasi- leiro é extraordinário, mas não é aproveitado, porque a mortalidade das empresas é grande. MARCONINI – Oque preocupa é que o governo, mais uma vez, sai com várias medidas que parecem esparadrapo, que nada resolvem, porque são todas de curto prazo. Temos um problema político sério, porque as maiorias no Congresso para nada servem. Também temosaquestãoda indústriade transforma- ção. Não há uma agenda, o governo não tem uma visão do que é para fazer. GUSTAVO – Todos esses assuntos difíceis são obstáculos ao progresso e têm uma caracterís- ticamuito singular. Falo isso por ter participado do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, no qual houve um esforço grande para fazer as reformas necessárias. Reforma sempre representa um ataque a um privilégio concedido a uma minoria cujo custo é disperso por uma maioria. Mas quando você elimina o privilégio, a maioria não se sente melhor, porque pagava pouco por aquilo. Dessa forma, você não consegue o apoio da maioria para o seu empreendimento contra a minoria privile- giada. Isso é a história da privatização em es- tatais que apresentam muita corrupção e uma série de privilégios aos funcionários. Na hora em que você se propõe a privatizar e terminar com todos esses esquemas, aquela pequena comunidade passa a ter você como inimigo. No entanto, o benefício gerado para o país, que está pagando por aquela festa, é pequeno, do ponto de vista individual. A coletividade nunca percebe exatamente onde ganha com a privatização, porque é pouco. O governo do qual participei empreendeu vários processos desse tipo e contrariou uma sucessão de mi- norias privilegiadas extraindo seus privilégios em benefício de maiorias desorganizadas. O que se percebeu depois de cinco anos é que se construiu um país melhor, mais livre de grupos privilegiados e arranjos. Isso é priva- tização, liberalização, abertura de mercados, meritocracia e competição. Mas verificamos também uma fadiga política, porque se juntou uma quantidade de minorias tão grande que o líder ficou desgastado. Na nossa época, cha- mávamos isso de Maldição de Gorbatchev – o sujeito que fez a maior de todas as reformas no lugar mais difícil do mundo, sem causar uma guerra nuclear. Ao final do processo, ele estava tão desgastado, que não seria eleito síndico do próprio prédio em Moscou. No Brasil, o que aconteceu foi que, quando começou o governo do presidente Lula, ocorreu o estacionamento absoluto do processo de reforma. Isso talvez fosse a vontade da população. O benefício do que foi feito no passado começou a aparecer em um ambiente favorável da economia mundial, que se prolongou até a crise de 2008. Tem sido um período bom para o Brasil. Acontece que, depois de muitos anos de imobilidade em matéria de reformas, está na hora de começar a pensar de novo no assunto. A agenda de refor- mas avançou timidamente. Para fazer o salto que nos levará a ter juros de primeiro mundo e crescimento de país emergente, precisamos de um novo lote, que não será feito por esse grupo político que está aí. O programa deles não é intrinsecamente reformista e tem outra natureza que o Brasil gostou, escolheu e adotou por três governos consecutivos. MARCONINI – Também fui do governo de FHC e tenho a impressão de que hoje } O espí r i to empreendedor do brasi lei ro é ex- traordinár io, mas não é aprovei tado, porque a mor tal idade das empresas é grande ~

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