Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 60 E N T R E V I S T A falta visão. O foco deste governo é muito político. Fico preocupado porque tem essa questão de curto prazo. Fica essa gritaria, essa gente toda tomando pequenas medidas. Seria interessante você comentar sobre isso. GUSTAVO – As coisas convergiram muito na economia e a experiência do governo do Partido dos Trabalhadores é muito reveladora porque foi dado todo o poder a eles para que um novo número fosse apresentado. Só que eles seguiram a nossa política. Temumdetalhe que me desagrada, embora não seja algo que comprometa a estabilidade macroeconômica. Eles têm uma filosofia de interferência e rela- cionamento com o setor privado que é vertical e dirigida a determinados setores. Já a nossa política era horizontal, com políticas públicas para todos. Num ambiente de Brasil cordial, com todos os problemas que se tem, esse tipo de ação muito focada descamba, rapidamen- te, para distorções. Essa questão de estilo é a única coisa que os distingue de nós. Por que só o produtor de linha branca deve receber o benefício? É esquisito escolher um campeão. GRACIOSO – São decisões populistas. É evidente que o desconto na linha bran- ca favorece, diretamente, o consumidor de baixa renda. GUSTAVO – O drama das políticas verticais é que elas vêm junto com um trabalho poderoso de marketing. E permite uma interpretação onde se tem materializado o objeto da sua política, que é a linha branca. Então, o con- sumidor vai à loja, vê que a linha branca está mais barata e parece que aquilo fez chover. Em contrapartida, quando se faz uma medida de natureza genérica, horizontal, ela ocorre de maneira impessoal. GRACIOSO – E o resultado não é tão rápido. GUSTAVO – Às vezes é até mais rápido, mas é impessoal. A administração pública deve sem- pre procurar o caminho da impessoalidade. Nosso problema na administração pública é querer sempre personalizar tudo que é bom. O recurso do impessoal é usado apenas quando se faz algo ruim como, por exemplo, tributar. Mas o bem é sempre pessoal e representa um favor para alguém. Não gosto desse estilo, que considero uma distorção na maneira de fazer política pública no Brasil. Mas esse é o jeito do Partido dos Trabalhadores. GRACIOSO – A indústria está certa quan- do pede câmbio e juros mais baixos, confessando as suas próprias fraque- zas, como forma de voltar a competir? GUSTAVO – A indústria é formada por um gru- po heterogêneo de empresas e pessoas. É fácil se deixar levar sobre o que dizem as entidades representativas, como a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), além de grandes empresários com pensamentos pro- gressistas e discordantes. Não existe uma uni- dade no pensamento da indústria. É claro que o câmbio valorizado prejudica o exportador, assim como os juros altos prejudicam a todos. Não há nada de errado com as queixas do in- dustrial. Isso é uma democracia, todo mundo pode falar o que quiser e viva a diferença. Estamos vivendo um período excepcional no aspecto de preços de commodities e de liqui- dez internacional, o que traz a taxa de câmbio para um valor desconfortável para a empresa brasileira, que compete com a exportação. } Estamos v i vendo um per íodo excepci ona l no aspecto de preços de commod i t i es e de l i qu i dez i nternaci ona l ~

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx