Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 61 S o f i a E s t e v e s Mas os países que viveram essa experiência de valorização cambial passaram da condição de emergentes para desenvolvidos, sendo que nenhum deles se desindustrializou. A pergun- ta é: O que fez a indústria nesses países que se desenvolveram tardiamente, como Japão, Austrália, Nova Zelândia, Coreia e os países do leste da Europa? GRACIOSO – Como homem de mercado, ousaria sugerir duas coisas: inovação tecnológica e marcas fortes. GUSTAVO – Os índices de competitividade são, na verdade, um agregado de várias coisas, que incluemmarcas e inovação, alémde temas como qualidade de infraestrutura, educação básica, casamento entre a ciência e a profissão, via ino- vação que se transforma em tecnologia, e fatores operacionais pertinentes aos custos de produção. GRACIOSO – Depende muito da cultura dominante e da formação social. GUSTAVO – Pois é. O ponto é que uma vez dentro do planeta Terra e com a porta aberta aos ventos da globalização, você precisa en- frentar a competição, goste ou não, qualquer que seja a sua formação cultural – e a nossa é ruim e anticompetitiva. Quando a inflação desapareceu e o ambiente competitivo ficou mais claro, lembro que a primeira reação de todos os setores foi ir a Brasília para dizer que o governo estava fazendo o câmbio errado. Esse é o primeiro erro, porque o câmbio se faz sozinho. Tanto é que estamos vendo hoje a taxa de câmbio igual ou pior do que quando estava na minha época. GRACIOSO – Quando era fixo. GUSTAVO – O câmbio era fixo para baixo e diziam que a culpa era minha. Tentávamos não deixar valorizar, exatamente como é feito hoje. Mas o fato é que o poder do governo para fixar a taxa de câmbio numa economia aberta é reduzido. Quando tem abundância de entrada de dólar, como acontece agora, o verão é de 40 o e a taxa de câmbio afunda. Temos longos períodos de verão. Depois, enfrentamos um longo período de valorização. Hoje, o valor real da moeda representa um terço do que foi na década de 80 e nos acostumamos a isso. É claro que o empresário sabe fazer conta. Para ele, se a taxa de câmbio – que já foi R$ 1,60 e hoje está em R$ 1,80 – fosse ampliada para R$ 2,5, seria o ideal. O efeito da desvalorização cambial seria equivalente a uma melhora da logística brasileira. GRACIOSO – Quem paga essa conta? GUSTAVO – O economista Celso Furtado já dizia: “ Todos nós, através de uma coisa chamada Socialização das Perdas ”, uma espécie de im- posto que pagamos para manter a indústria exportadora competitiva, mas com uma com- petitividade espúria, derivada de um preço da moeda brasileira que não é real. Se o Banco Central sair do mercado e parar de comprar dólar loucamente, o preço será mais baixo do que R$ 1,80. Não é errado nem descabido que o industrial se queixe, mas o modo como o governo enfrenta esse desafio é equivocado. As coisas de curto prazo que estão sendo feitas são parecidas com aquilo que fazíamos. Também recorremos ao IOF e às restrições à entrada de capital, mas havia uma fronteira de trabalho com a deliberalização das saídas, que parou de ser atacada. O mercado de câmbio tem um problema: é muito fácil entrar no Brasil, mas o brasileiro não pode sair com o seu dinheiro. Um exemplo é a Lei 4.131 do Capital Estrangeiro, } Não teremos i ndúst r i a no Bras i l se i ns i s- t i rmos em uma i ndúst r i a com grau de 90% de naci ona l i zação ~ Gustavo Franco

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