Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 62 E N T R E V I S T A que assegura a qualquer capital estrangeiro que entra no país um registro e o direito de ir embora quando quiser.Mas para o brasileiromandar seu dinheiropara fora é umtormento. Essa proibição, que vem sendo amenizada suavemente, poderia ajudar bastante no assunto cambial, até porque a experiência de outros países, que enfrentaram a valorização cambial no decorrer do processo de decolagem para virar país desenvolvido, mostra que um dos elementos principais foi o investi- mento no exterior. Houve uma época em que o Japão era a China de hoje. Toda “bugiganga” era made in Japan . Ele era o grande exportador do mundo. De repente, amoeda japonesa se valoriza extraordinariamente e o Japão faz offshore . As fábricas de “bugigangas” se mudampara Coreia e China, enquanto o Japão passa a produzir e exportar apenas bens commais vantagem com- parativa, de maior valor agregado. Isso poderá acontecer conosco. Hoje, os calçadistas no Sul migraramsuas fábricasparaaChinaeguardaram para si o segmentomais nobre: eles fazemdesign, criammarcas, trabalhamcomos royalties . Aparte de produção, o chão da fábrica, é no Oriente, assim como ocorre com o iPhone, que ninguém identifica como o produto que desindustrializou os Estados Unidos. É uma mudança na natureza da inserção da indústria no contexto global. Não teremos indústrianoBrasil se insistirmos emuma indústria com grau de 90% de nacionalização. Se a Embraer fosse produzir aviões com 90% de nacionalização, teria tido o mesmo fim das indústrias de computadores da época da reserva demercado, que não conseguiramproduzir nada competitivo com os padrões de substituição de importaçãoparaa indústriamenos sofisticadados anos de 1960. Se tirarmos os efeitos temporários de preços de commodities e suas implicações na pauta de exportação e produção doméstica, veremos que não está havendo desindustriali- zação nem queda de participação da indústria de transformação na produção brasileira. Nossa indústria já é muito multinacionalizada. Este é umpaís ondeaparticipaçãodocapital estrangeiro no PIB está entre 50% e 60%, segundo o Censo de 2010. Nas empresas de controle estrangeiro a participação é menor, ficando em 38%. É im- pressionante como o Brasil se globalizou por aí... GRACIOSO – Contra a vontade. GUSTAVO – Não, espontaneamente. É pareci- do com o processo que ocorreu na Europa do pós-guerra, que é citado no livro O Desafio Americano , de Jean-Jacques e Servan-Schreiber (Editora Expressão e Cultura). A obra conta como o protecionismo da indústria europeia acabou por transformá-la em estrangeira. Com a balança comercial, as empresas americanas pulavam a barreira tarifária e se estabeleciam na Europa. Logo, a percepção foi a de que a indústria europeia havia se tornado mul- tinacional. Esse movimento incomodou os franceses mais nacionalistas, deu origem ao livro O Desafio Americano e a uma síndrome antimultinacionais, que depois caiu no es- quecimento absoluto. Estamos vivendo algo parecido no Brasil. A diferença é que a Europa se multinacionalizou entre os anos de 1950 e 1960, e nós começamos depois do Plano Real. O primeiro Censo de Capital Estrangeiro – feito em 1997 para ano-base de 1995 – indicou 17% de participação das empresas com capital estrangeira no PIB brasileiro. Em 15 anos, esse número subiu para 55%. } Quando a i nf l ação estava em 40% ao mês , n i nguém o l hava para a ta xa de j uros . Agora , uma ta xa de j uros de 9% ao ano é a ma i or do mundo e nos i ncomoda ~
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