Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

surgem as imposições do mercado internacional, penalizando a população. “ Em situação de crise, a coerção transforma-se empesadelo.Adesconfiançados investidoreslevaàvendadetítulosdadívidapública,eo resultado éumaaltadas taxasde juros, ouseja, do custo do próprio financiamento dos Estados. O acréscimo de tensão financeira que se segue pode chegar a impor aos orçamentos públicos custos exorbitantes, como perceberamdolorosamenteosgregos ”( Desglobalização financeira e soberania nacional , de Frédéric. London, LeMondeDiplomatiqueBrasil,maiode2010,p.28). A história dos séculos XIX e XX deu razões sufi- cientes para que se desconfiasse da hipertrofia do princípio nacional, que tem por nome “naciona- lismo”. No entanto, não produziu nenhuma con- cepçãooperadoraalternativada soberaniapolítica. Porque, aodestruir a ideiadenação, no liberalismo se destrói, com um só golpe, a ideia de soberania, tomando cuidado de evitar qualquer reconstrução de soberania em escala territorial. Em um primeiro momento, o inconveniente da aparência de um apego excessivo ao passado, ao retornar à ideia de “nação”, ridicularizada pelo neoliberalismo.Asimplificação faz comquea ideia de nação seja concebida limitadamente e sempre separada de sua correlata essencial: a soberania. Provavelmente, a solução para a crise seja a volta do velho Estado benfeitor (O Estado Providência) e, como disse Luiz Gonzaga Belluzzo (Le Monde Diplomatique Brasil, outubro de 2009, p. 4): “ Um novo Estado desenvolvimentista” , como forma foca- lizada das políticas sociais, demodomais eficiente para reduzir asdesigualdades eeliminar apobreza e reduzir de forma eficaz as “fronteiras internas”, muros da vergonha entre ricos e pobres em todos os países domundo. NÃO ACONTECIMENTO: forma pela qual o pensador definiu a guerra do Iraque, que teria sido “ umatentativafracassadadeapagaroverdadeiroesim- bólico acontecimento: os atentados de 11 de setembro ”. Diante da hegemonia, todo o trabalho do nega- tivo, todo o trabalho do pensamento crítico, da relação de forças perante a opressão ou da subje- tividade radical em relação à alienação, tudo isso está (virtualmente) ultrapassado, simplesmente porque essa nova configuração hegemônica (que está longe de ser ainda a do capital) tem, segundo osmeandros da razão cínicaou segundoa astúcia da história, absorvido opróprionegativo, a nega- tividade enquanto valor de regeneração. A imensa Síndrome de Estocolmo (processo psi- cológico de simpatia do sequestrado pelo seques- trador), os alienados, os oprimidos, os colonizados se alinham do lado do sistema do qual são reféns. Eles estão daqui emdiante “anexados”, no sentido literal do termo, prisioneiros do “nexus”, da rede, conectados para o bem e para omal. A dominação pode ser aniquilada de fora para dentro. A hegemonia só pode ser revertida de dentro para fora. Três dimensões simultâneas desenham a pas- sagem da dominação para a hegemonia. ILUSÃO ECONÔMICA: O capital se trans- cende e volta-se contra ele mesmo no sacrifício do valor (ilusão econômica). Por as- sim dizer, ele salta por cima da própria sombra ILUSÃO DEMOCRÁTICA: O poder volta-se contra ele mesmo no sacrifício da repre- sentação (a ilusão democrática) ILUSÃO METAFÍSICA: O sistema inteiro volta-se contra ele mesmo no sacrifício da realidade (a ilusão metafísica) A crise Grega reabre o debate sobre o financia- mento das dívidas públicas e seus credores.Res- ES PM JORGE LORENZO VALENZUELA MONTECINOS Professor da ESPM-SP. Doutor pela Universidade de Paris em História Social. Pós-doutor pela USP em Política Internacional e Comparada

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