Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
nenhuma reação por parte dos referidos países. Possivelmente esses dois episódios estão ainda presentes na mente dos formuladores israelen- ses e servem de referência em seu pensamento. Porém, agora, os israelenses estão examinando a possibilidade de outro ataque preventivo que pode resultar em um conflito muito mais amplo, até porque o adversário tem forças militares ro- bustas e ocupa uma posiçãogeográfica chave. Na realidade, os precedentes são ilusórios. Publicamente, Israel procura fazer crer que sua tolerância está acabando e que, se o Irã não aceitar acordos razoáveis com os países ocidentais e a AIEA, lançará um ataque de- vastador às instalações nucleares iranianas. É compreensível que, considerando as circuns- tâncias históricas vividas pelo povo judeu, a possibilidade de um país inimigo, como o Irã, dotar-se de armas nucleares seja vista como uma ameaça existencial intolerável para Israel. Essa circunstância é reforçada pelos discursos de grande agressividade dos líderes iranianos com relação ao Estado judaico que, ainda que sejam basicamente retóricos, são percebidos como ameaças concretas que ecoamumpassado impossível de esquecer. Contudo, a eficácia de umataque aéreo israelense é duvidosa e suas consequênciasmilitares, diplo- máticas e econômicas podemser gravíssimas. O chairman dos chefes de Estado Maior, general MartinDempsey, que éomilitarmais importante dos Estados Unidos, declarou em fevereiro pas- sado, publicamente, que Israel não tem a capaci- dade de conduzir, sozinho, tal operação. Ou seja, ainda que Israel reserve-se o direito de tomar uma decisão soberana em face de um risco vital, a iniciativa de umataque às instalações iranianas teria de contar comapoio americano, pelomenos num segundo tempo. Em outras palavras, se o ataque fosse insuficiente e provocasse violenta reação iraniana, só os Estados Unidos teriam a capacidademilitar de umataque de grande força. Aprofundidade da relação especial não encoraja uma passividade americana em momento de grande perigo para o Estado judaico, ainda que seja oportuno recordar que em nenhuma das guerras de Israel houve intervenção americana. A relutância de Washington é visível, com uma preferência clara pela via diplomática. Para não alienar o aliado, Obama autorizou o início de conversas para o fornecimento a Israel de bom- bas perfurantes e aviões de reabastecimento. O apoio ativo não terá passado disso. É realmente muito duvidoso que os Estados Unidos queiram envolver-se diretamente numa terceira guerra após as amargas experiências do Iraque e do Afeganistão. Em ano eleitoral, Barack Obama não pode adotar uma postura guerreira, em especial porque um conflito com o Irã provavel- mente levaria ao fechamento do vital estreito de Ormuz. Isso seria intolerável, pois é por onde passa uma percentagem de mais de 30% do petróleo do Médio Oriente, com a consequente elevação incontrolável dos preços do petróleo. Se isso ocorresse, haveria um choque recessivo na economia americana, justamente quando ela começa a apresentar sinais de recuperação. O apoio militar americano não é garantido a priori e, portanto, Israel estaria correndo um imenso risco. Ademais, um ataque israelense, com ou sem apoio dos Estados Unidos, geraria enormes movimentos demassa emtodoomundo islâmico e ataques terroristas generalizados contra alvos americanos e judaicos, mergulhando o mundo em verdadeiro caos. Administrar tal situação seria uma tarefa hercúlea. Contudo, o governo americano tem um grande interesse estratégico em conter a expansão do poder iraniano e por isso vai manter suas opções militares em aberto, ao mesmo tempo em que tenta abrir canais de diálogo comTeerã. Ainda que todas as tentativas anteriores tenham falhado, é possível que o Irã queira ganhar tempo com as negociações que estão por começar. Obama recentemente concedeu uma entrevista à revista The Atlantic , em que afirmou que os EstadosUnidos não vão tratar o Irã comofizeram comoutros inimigosmuitomaispoderosos, como m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 89
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