Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 94 } A Ch i na co r re o r i sco de fe- cha r e cont i nuamos conf i ando na nos s a capac i dade de se r- mos compet i t i vos em te rmos de commod i t i es ~ GRACIOSO – Nesta edição da Revis- ta da ESPM discutiremos o tema: a nova ordem econômica mundial. Por razões didáticas, ele será di- vidido em três partes. A primeira é a contextualização dessa nova ordem econômica que alguns di- zem ser parte da crise iniciada em 2008. Quais os novos atores desta economia e por que a crise atual é tão parecida com a de 1929? O segundo ponto visa apresentar os rumos do capitalismo e a intera- ção entre capitalismo, economia e finanças do mundo neste novo cenário. E, finalmente, como fica o Brasil diante de tudo isso? ILAN – Há mesmo uma nova ordem econômica ou isso é apenas uma tentativa dos editores de vender mais revistas? SERGIO – O tema tem muitas di- mensões, mas gostaria de chamar atenção para o papel dos orga- nismos multilaterais. Se existe uma nova ordem econômica, deve haver também uma “antiga ordem mundial”. A candidata ao posto provavelmente nasceu no final da Segunda Guerra Mundial, com a criação de três instituições multi- laterais: o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial e o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), que depois v irou OMC (Organização Mundial do Comérc io). Cada uma des sa s instituições enfrenta uma crise particular. O Banco Mundial foi criado para ajudar os países mais pobres, e hoje alguns deles são os que têm recursos para investir. O FMI surgiu para ajudar países com dificuldades no balanço de paga- mentos. Mas, atualmente, o Fun- do não tem condições de ajudar os países ricos com problemas no setor externo. Finalmente, a OMC é um órgão de duas pernas: uma de negociações e outra de fórum de decisões e soluções de contro- vérsias. A perna das negociações está parada, já a perna de soluções de controvérsias continua ativa na mediação de conflitos comer- ciais. Mas essa perna mais ativa en f renta rá desa f ios em 2012, com o aumento de recursos, por parte de vários países, às medi- das protecionistas que não estão reguladas nos acordos da OMC. Assim, esses t rês organ ismos multilaterais, representantes de uma eventual velha ordem mun- dial, têm seus problemas. ILAN – Então, essas grandes ins- tituições multilaterais não estão dando conta do recado numa con- juntura diferente daquela pela qual foram concebidas? MARCONINI – O caso da OMC é emblemático, porque fica óbvio que tudo aquilo que ela – e a sua organização predecessora, o GATT – conseguiu fazer em 50 anos ao promover a abertura do comércio mundial, está sendo ameaçado. É um processo que começou na década passada, com a entrada da China na OMC – o que agravou a preocupação dos países em relação à abertura comercial, ao mesmo tempo em que se lançou uma nova rodada de liberalização do comércio – a “Rodada de Doha”. O verdadeiro problema é saber como lidar com o fato de que a China está cada vez mais competitiva e presente, enquanto os instrumen- tos tradicionais e legais de defesa comercial não são mais suficientes. A OMC perdeu o foco, passando a tratar de assuntos menos relevan- tes. Ela não aborda, de forma direta, temas como commodities, petróleo, câmbio ou da própria China, de maneira sistêmica, apesar de as grandes pautas estarem sendo mais demandadas do que nunca. Preci- samos ter uma entidade que consiga tratar desses assuntos, incluindo até mesmo a relação do comércio com as mudanças climáticas. No entanto, a OMC está mais debili- tada do que nunca, principalmente por conta da paralisia do governo americano, que sempre liderou esse processo. Pouco tempo antes do caso Lehman Brothers, em julho de 2008, ocorreu a última tentativa de conclusão da “Rodada de Doha”, o que não foi possível. Desde a crise, o tema do comércio tem estado à de- riva enquanto o discurso dos países contradiz, de forma contundente, o aumento do protecionismo global.
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