Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 95 } As cr i ses só se reso l vem quando se que ima uma re- ser va impor tante de cap i ta l e de capaci dade oci osa ~ EDUARDO – Estamos falando de arranjos institucionais e entidades supranacionais, enquanto temos uma readequação em curso. Existe uma tentativa de se criar novos me- canismos, porque os atuais já não funcionam. É muito comum com- parar a crise atual com a de 1929, mas é preciso pensar nas questões de curto prazo que começam a surgir, como a mudança do papel dos emergentes ou as soluções encontradas para crises como a da Grécia. Outro ponto é a questão das organizações que estão aprenden- do a lidar com novos temas, como sustentabilidade, novas demandas do consumidor e melhoria de sua eficiência. O importante, nessa dis- cussão, é avaliar o papel do Estado e como ele garante os direitos de propriedade para fazer os agentes econômicos – que são a base do capita l ismo – se mot iva rem a agir e captar recursos. Por con- ta da crise financeira, o Estado não consegue ma is mon itora r essa relação ou mesmo oferecer estabilidade suficiente para que os agentes econômicos possam investir. É uma adaptação e terá consequências no futuro. Essa crise não é uma mudança insti- tucional e sim uma readequação às novas motivações do mercado. CRISTINA – Parte do problema que vivemos representa um suspiro dentro de um processo de falência. A questão não deve ser vista apenas do ponto de vista real e produtivo porque a China constitui um fato novo, com o qual não sabemos lidar. Outra questão é a desorga- nização da arquitetura financeira internacional, que talvez explique essa sequência de crises, como a do subprime . A China tem apresenta- do medidas interessantes nesse sentido ao propor, por exemplo, na reunião do G20, em 2009, uma moeda de reserva mundial dife- rente da moeda nacional. Ela vem trabalhando numa estratégia de internacionalização da sua moeda por meio de parcerias com outros países para fazer trocas locais de moedas. Por outro lado, talvez de- vêssemos olhar com mais atenção a questão monetária. Historica- mente, as mudanças de padrão monetário se deram em séculos, não foram rápidas e agonizaram o paciente antes de matar. É preciso pensar em novas instituições e outra arquitetura financeira. GRACIOSO – Em meados de março, por duas vezes, a Ambev tornou-se a segunda empresa mais valiosa do Brasil por meio da valorização de suas ações na Bolsa de Valores. A companhia ficou atrás da Petro- brás, mas à frente da Vale, algo que, até há pouco tempo, poderíamos considerar imaginável. Certa vez conversei com Jorge Paulo Lemann, mentor intelectual da Ambev, que confessou ser um discípulo in- condicional do economista Milton Friedman e do neoliberalismo. Essa filosofia está presente na decisão da Ambev em ganhar a qualquer custo dos concorrentes para se tornar cada vez maior e mais importante no contexto mundial. Claro que o neoliberalismo tem outras implica-
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