Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 96 } No Bras i l , não consegu i - mos ter uma est ratégi a que se j a de compet i t i v i dade ~ } Es t a é uma cr i se de conf i an- ça na capac i dade do Oc i dente em p rove r os p rodu tos e bens púb l i cos , sob ret udo em com- pa ração com a Ás i a ~ ções, como, por exemplo, no papel do Estado. É possível que a nova or- demeconômica seja, aomesmo tempo, causa e efeito da filosofia neoliberal. OCTAVIO – Nunca gostei desse de- bate sobre neoliberalismo. Existe um certo estigma em torno dessa discussão, que não contribui em nada para as reflexões a respeito do que temos pela frente no cenário mundial. Há coisas que são trata- das como neoliberais que são puro bom-senso. Outras não. Conheço bem os organismos internacionais porque trabalhei em um deles e sei que, emmomentos de crise, há uma tendência em dramatizar demais as situações com o objetivo de mo- bilizar os atores, países e recursos envolvidos. O caso da Europa é emblemático. Acompanho isso de perto. Há quatro meses, Christine Lagarde (diretora-gerente do FMI) esteve em São Paulo, numa reu- nião reservada, e reconheceu que é preciso justificar o papel do Fundo Monetário, uma instituição imensa e cara, que passou bons anos quase que sem função. Bem, vivi cerca de oito anos na Europa, acho que co- nheço um pouco daquela cultura e posso afirmar que estamos falando de uma região “irreformável”. Mas a crise em curso está permitindo que a Europa do euro promova algumas transformações e reformas que jamais seriam feitas em condições de normalidade. Considero o euro a maior ou uma das maiores expe- riências civilizatórias da humani- dade, pois representa uma renúncia espetacular à soberania a favor de um projeto político maior. Por isso não vejo nenhum país da Zona do Euro deixando a moeda única a despeito de todas as suas dificul- dades existentes. Cada um deles, inclusive a Grécia, está lá por razões políticas. A Europa não é uma “zona monetária ótima”, conceito muito conhecido dos economistas, mas deve ser compreendida como uma “zona política ótima”, composta por 17 democracias parrudas e uma única moeda. O que ocorre na Zona do Euro é uma crise de governan- ça, diferente da crise de 2008, que foi essencialmente bancária e de proporções sistêmicas dramáticas. O que está em jogo é a definição de como será o desenho de uma nova governança necessária na região. Tudo tende a caminhar na direção de uma federação orçamen- tária, com algum poder de veto de Bruxelas. Francamente, esta não me parece uma crise do modelo de “Estado do Bem-Estar Social” ( Welfare State ), como muita gente
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