Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 97 } Pouco tempo antes do caso Lehman Brother s , em j u l ho de 2008, ocor reu a ú l t ima tentat i va de fechar um acordo na OMC, que não fo i poss í ve l ~ sustenta. O fato é que, nos países que adotam o Welfare State , são registradas taxas de crescimento mais moderadas, porém com bem menor volatilidade do PIB. Ou seja, os países crescem um pouco menos, porém o PIB é menos volátil. É ver- dade que os bancos da Europa têm sérios problemas, mas não acredito que veremos, desta vez, cadáveres bancários por lá, até porque depois que Mario Draghi (presidente do Banco Central Europeu) assumiu, ele v irtualmente decretou que, sob sua administração, nenhum banco quebrará na Zona do Euro. Esse posicionamento trouxe uma certa tranquilidade aos mercados e melhorou até a gestão política da crise europeia. Já a crise americana de 2008 representou um problema bemmais grave, sistêmico e similar àquela dos anos de 1930. Na época, o comportamento pró-cíclico dos agentes envolvidos ficou exacerba- do e a expansão do crédito levou a bolhas de ativos financeiros. Agora, o nosso desafio é o de pensar o pós- crise que ainda implicará em um ciclo de desaceleração prolongado e de crescimento medíocre. Também é preciso olhar para frente e incluir a China nessa reflexão. GRACIOSO – Quem sairá primeiro da crise, Estados Unidos, Europa ou Brasil? OCTAVIO – Gradualmente o pior fica para trás. A resistência do Federal Reser ve (FED, o banco central americano) em promover mais uma onda de expansão monetária, conhecida como afrouxamento quantitativo, revela uma confiança na recuperação ainda que modera- da. Na Europa o cenário é complexo, mas bem menos tenso do que em 2011. A recessão europeia talvez venha a ser mais branda do que se imaginava, salvo na Espanha, onde a situação é mais complicada. Ela é bastante complexa, mas não é sistêmica como a de 2008. EDUARDO – Estamos caminhando para a solução e, assim, evitar essa polêmica de olhar o Estado como uma intervenção necessária em alguns momentos. MARCONINI – Fala-se muito na crise do capitalismo ou do Wel- fare State , mas esta é uma crise de confiança na capacidade do Ocidente em prover os produtos e bens públicos demandados por suas populações, sobretudo em comparação com a Ásia. Falta ca- pacidade nos políticos ocidentais em tomarem decisões fortes. No caso da Alemanha, o país de maior peso e importância para o presen- te e o futuro da Europa, a demora em tomar decisões teve requintes morais: “Fizemos tudo bem feito e não entendemos porque temos de arcar com o erro dos outros.” OCTAVIO – Esse pensamento mudou, recentemente, graças ao Mario Dra- ghi. A Alemanha está gostando da mudança que houve noBancoCentral Europeu, por incrível que pareça. MARCONINI – Existe uma paralisia do ponto de vista da percepção. Notamos que, at ua lmente, os Estados Unidos não conseguem andar rápido com nenhum assun- to, como a questão do orçamento, da mudança climática... Tudo está muito difícil. Há também uma pola r i zação pol ít ica est ranha, na qual o candidato da oposição nega tudo e não parece contribuir com novas ideias. Esta é uma crise de confiança política, com o reconhecimento, por parte da população, de que o governo não poderia ter deixado acontecer o que aconteceu e que agora não logra tirar o país do buraco. A política nos Estados Unidos não nos deixa muito esperançosos... OCTAVIO – Mas o pragmatismo está prevalecendo. Veja Itália, Espanha e Portugal, que passa- ram por mudanças importantes na área política com reformas impensáveis tempos atrás. MARCONINI – Sobretudo a Itália, com sua capacidade de estalar os dedos e mudar de governo. Isso foi impressionante. CRISTINA – Eles estão mais de- safiados a negociar as medidas necessárias com a população.

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