Revista da ESPM_MAR-ABR_2012
R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 98 OCTAVIO – Mas a Itália, nesse mo- mento, não tem nenhum deputado como ministro. A classe política saiu de cena temporariamente. MARCONINI – Incrível, porque isso nunca aconteceu na história. SERGIO – Não diria que a classe política saiu de cena, ela nunca sai. Alguns políticos saíram de cena, outros entraram e coloca- ram lá os seus técnicos. GRACIOSO – O desfecho dessa crise vai beneficiar ou prejudicar as ex- portações e importações? MARCONINI – Estamos vendo agora o efeito claro da crise, ou seja, o fato de que a própria China – movida pelas exportações – terá de voltar-se mais para o mercado doméstico. Ela está sentindo o impacto da Eu- ropa e dos Estados Unidos. E, nós também vamos sentir esse impacto, já que a China vai crescer menos. Estamos assistindo a esse efeito, quase que previsível, de quando se tem uma queda no nível de ativi- dade correspondente a dois terços da economia mundial. GRACIOSO – Você não teme o au- mento do protecionismo? MARCONINI – Todos os países es- tão tentando, de uma forma ou de outra, inventar ou aplicar uma medida tradicional de proteção. No Brasil, antes isso era competência do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, considerado umMinistério protecionista e buro- crático. Agora, o próprio Ministério da Fazenda começa a atuar muito mais por meio da Receita Federal, com medidas que não são legais do ponto de vista da OMC e sequer fazem sentido do ponto de vista macroeconômico. Essa é a minha maior preocupação. OCTAVIO – Existe um protecionis- mo cambial também, não é só o comercial. A preocupação com as moedas é natural, compreensível e até justificável. Durante muitos anos o FMI era um feroz comba- tente de qualquer tipo de controle cambial e hoje, em determinadas situações, chega a recomendar essa prática. Costumo dizer que a orto- doxia tirou um período sabático de uns três anos. Daqui a alguns anos ela volta. Agora, nosso desafio é ver quanto tempo vai durar esse ciclo de políticas heterodoxas em praticamente todos os países, de- senvolvidos e em desenvolvimento. SERGIO – Sobre a importância da crise, às vezes penso que, quando nossos netos estudarem esse pe- ríodo, a crise de 2008 será apenas uma nota de rodapé em um ex- tenso capítulo sobre a entrada da China como importante agente econômico. Parece-me que esse é o grande evento do início do sécu- lo XXI, e não a crise de 2008. Mas deve demorar ainda algum tempo para que possamos compreender totalmente os impactos da entrada desse ator de 1,3 bilhão de pessoas na economia mundial. GRACIOSO – O Conselho Superior na China acha que chegou a hora de mudar o esquema do capitalismo do Estado daquele país. ILAN – Por um capital de risco mais de mercado. OCTAVIO – Os dois líderes novos da China que possivelmente serão confirmados até o fim do ano – são reformistas, o próprio candidato a primeiro-ministro tem um fi- lho que estuda em Harvard. Essa transição chinesa me parece ine- xorável. Os conservadores estão perdendo espaço. As transições na China são sempre muito lentas, mas já está em curso uma nova orientação econômica no país que se volta crescentemente para o mercado doméstico com o objetivo de construir um regime de prote- ção social interno para reduzir a elevadíssima taxa de poupança. Esta é a prioridade do governo expressa no plano quinquenal. Os chineses precisam consumir, mas para isso é necessário construir, gradualmente, um Estado do Bem- Estar, similar ao que existe no Brasil. Como não existe, pratica- mente, nenhuma proteção social, a decorrência disso é um excesso de poupança. Esse tema é de grande importância para o Brasil que é quase que um dependente quími- co da China. A China também se tornou o maior investidor direto do Brasil, o país para onde mais exportamos e a nação de onde mais importamos. Agora, a China se volta para dentro e, em tese, surgiria aí uma oportunidade para se explorar o mercado chinês com outros produtos. A moeda chinesa tende a seguir se valorizando. Esse seria o momento de vender para a China outros produtos que não commodities. Mas temos visto a China cada vez mais voltada para a própria região asiática, celebrando acordos com Japão e com a Coreia. Estamos monitorando o comér- cio intra-asiático, e obser vamos
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