Revista da ESPM

R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 14 ENTREVISTA } Nunca antes não. O Brasil sempre caminhou numa certa direção. Caminhava devagar, caminhava mais rápido, mas caminhava em uma direção. ~ GRACIOSO – Qual a sua opinião sobre os BRICs? BOTAFOGO – Essa sigla tem um grau de arbitrariedade e ao mesmo tempo de rea- lidade. O principal argumento, a favor da expressão BRIC, é que ela pegou. Se não tivesse havido nenhuma adesão à realidade ou nenhuma perspectiva de consistência entre os membros, teria morrido rapida- mente. Mas aconteceu o contrário e, em certos casos, exageradamente; já há até um movimento – sobretudo entre os governos – de institucionalizar. O que está errado: não deve institucionalizar porque ainda faltam elementos de sedimentação entre os quatro países que permitam um trabalho em con- junto. Quando se institucionaliza significa que se vai trabalhar em posições comuns. É melhor deixar como está por algum tempo e ver quais são os temas de convergência, de divergência e se faz sentido, mais tarde, po- sições comuns. Esta é a posição dos BRICs. GRACIOSO – Durante todo o seu gover- no, o presidente Lula tentou projetar o Brasil internacionalmente, por meio da negociação de acordos mais favorá- veis e do aumento do nosso protago- nismo no exterior. Nos últimos anos, os resultados desse trabalho já eram duv idosos. Em pr imeiro lugar, ao longo de oito anos, não se conseguiu negociar um único acordo comercial digno de nota. Depois, o protago- nismo do País foi posto em questão. Ninguém ignora que alguns países da parte norte da América do Sul chega- ram a pedir aos Estados Unidos que moderassem o entusiasmo brasileiro pela liderança no continente, o que, realmente, é vexatório para nós. O que aconteceu embaixador: partimos de premissas erradas, não soubemos conduzir as negociações? BOTAFOGO – Como a pergunta é muito complexa, a resposta terá de ser também com várias qualificações, mesmo porque nem todos os elementos da sua pergunta, em minha opinião, correspondem ao que rea lmente ocor reu. Em pr imei ro luga r vamos falar do pano de fundo que é a im- portância que nesses últimos oito ou dez anos o Brasil apresentou diante do mundo. Isso é resultado de uma ação voluntarista e predeterminada do Governo Lula ou há outros fatores que vêm influenciando o cres- cimento da presença brasileira no mundo? Minha primeira observação é que, há várias décadas, o Brasil vem ficando cada vez mais importante. Este é um processo continuado. Evidentemente, nos últimos anos, por uma série de circunstâncias, o Brasil ganhou mais dimensão. Mas não é um processo no qual um país que estava escondido, de repente, surge por vontade do presidente Lula. Isso não ocorreu. Ele trabalhou esse conceito e chegou à conclusão − porque é um homem de muita intuição política − de que deveria posicionar-se, tanto interna quanto exter- namente, como o homem que apresentou o Brasil ao mundo. Com a célebre frase que costumava repetir, “nunca antes nesse país”, ele aplicava esse critério, que é absoluta- mente fantasioso. Nunca antes não. O Brasil sempre caminhou numa certa direção. Ca- minhava devagar, caminhava mais rápido, mas caminhava em uma direção. Então, há um grande exagero tanto dos que apoiam

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