Revista da ESPM

R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 16 } O BRIC deu cer to porque é uma sigla que representa quatro grandes países. ~ ENTREVISTA nos esqueçamos de que o Brasil ainda não ingressou plenamente no capitalismo mais amplo. Ele praticou durante muito tempo, e com sucesso, um capitalismo de estado misturado com proteção internacional, e a fórmula deu certo. Esse processo de substi- tuição de importações no Brasil se esgotou e a partir de 1990 precisou mudar. Fazer um acordo de livre comércio não envolve só aspecto tarifário, porque o próprio Brasil já reduziu o nível de suas tarifas. O Collor foi o primeiro a iniciar o processo de redução da proteção tarifária, mas no caso tanto da ALCA quanto do acordo Mercosul x União Europeia, o que o Brasil disse foi: “Vocês es- tão me oferecendo concessões em termos de tarifa que já não são mais atrativas. A minha dificuldade não é vender esses produtos, mas sim casos específicos relacionados à política agrícola da União Europeia, por exemplo.” Na área industrial as tarifas são baixíssimas, mas se quiser vender carne, frango e óleo de soja, a tarifa aumenta, são os chamados picos tarifários e nisso a disposição deles em negociar era muito reduzida. Isso levou a uma dificuldade de negociação. GRACIOSO – Todas as partes tinham muito receio de fazer novos acordos. BOTAFOGO – Exato. E esse tema permane- cerá assim por algum tempo. Há 12 anos, o Brasil era um exportador de US$ 70 bi- lhões. Hoje esse número dobrou, passando para mais de US$ 160 bilhões. Houve um crescimento muito g rande do comércio exportador e isso é um motivo de regozijo. Mas em termos da participação no comércio mundial, o Brasil é um anão − temos 1,2% do comércio mundial. Ainda somos uma economia muito fechada, pouco sensível ao comércio mundial, apesar de termos mais do que duplicado as nossas exportações. Então, há toda uma agenda a ser cumprida, que não avançou durante o regime dos oito anos do presidente Lula. O voluntarismo equivocado foi procurar dar à política externa algumas ênfases que talvez não correspondessem e ainda não correspondem às necessidades do País. A mais famosa delas é a quase obses- são que tinha o ministro Celso Amorim de garantir uma maioria numérica de países que votassem a favor do Brasil para se ter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como se a presença do Brasil dependesse de uma vo- tação majoritária. Claro que sempre haverá votação, mas qualquer que seja a natureza de uma reforma da carta das Nações Unidas ou ainda o resultado que venha a aumentar a quantidade de membros permanentes do Conselho de Segurança, não será por meio de uma votação numérica. Por exemplo: 20 países de pouca relevância votando contra a China, não adianta. Se os grandes países, como China e Estados Unidos, não tiverem percebido o peso específico do Brasil, sua credibilidade e capacidade de ação, ele vai simplesmente garantir no Conselho de Se- gurança aquilo que já faz, não adianta ter 50 países a favor. Com isso, muitas concessões equivocadas foram feitas, sobretudo no cam- po político, como a tentativa de aproximar-se do Irã, a tentativa de mediar algo entre Israel e a Palestina também de maneira ingênua, num assunto que há séculos todas as ca- beças do mundo batem e sem chegar a um acordo, porque é complicado. Alguns erros menores também mancharam a imagem,

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