Revista da ESPM
março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 17 } No aspecto econômico, não há nenhuma dúvida de que o Brasil é um dos países que têm um dos maiores desempenhos de crescimento anual. ~ como a situação de Honduras, onde o Brasil permitiu que o presidente deposto, Manuel Zelaya, entrasse na Embaixada brasileira e fizesse um discurso lá dentro. Esses erros mancharam a imagem e tiveram até um efeito contraproducente, porque o Brasil, de certa maneira, perdeu credibilidade como um agente de destaque no plano interna- cional, além de demonstrar que ainda não está maduro para papéis importantes, algo que está sendo aparentemente corrigido pela presidente Dilma Rousseff. A ausên- cia de acordos de livre comércio não deve ser considerada um fracasso do governo anterior. Esse é um assunto complicado. Outro ponto é que temos um grande es- paço para aumentar a nossa presença no mercado mundial exportador, sobretudo no campo das manufaturas, sem necessidade ainda de acordos de livre comércio. Basta fazer o dever de casa, aumentando a nossa competitividade e a produtividade da nos- sa indústria. E isso passa por investir em infraestrutura. Estamos à beira de apagões logísticos, não só de energia, que afetam a competitividade da nossa pauta exportadora industrial. Mas não na parte agrícola, porque desde 1500, o Brasil é um grande exportador da agricultura. SÉRGIO – Embaixador, parece-me que essa discussão do modelo em que o Brasil está entrando transita entre um momento de desindustrialização ou uma nova ordem de divisão interna- cional de trabalho. Notamos que, hoje, a indústria automobilística não é mais o grande motor da industrialização. Como o senhor vê essa dualidade? Muitas vezes, parece que o Brasil será somente um fornecedor de commodi- ties , deixando a industrialização para os demais. BOTAFOGO – Não concordo com essa dico- tomia. Isso não existe. GRACIOSO – Essa era a tese da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). BOTAFOGO – Hoje, isso não se aplica mais, nem no Brasil estamos enfrentando esse di- lema. As estatísticas não indicam nenhuma desindustrialização do Brasil, se entendemos por desindustrialização a parte de compo- nentes da indústria na formação do produto bruto. Se você disser que estamos exportan- do menos manufaturas, é diferente. Mesmo assim, as estatísticas não comprovam, em termos absolutos, que o Brasil está exportan- do cada vez menos manufaturas. O que ele está, sim, é exportando mais commodities e disso não tenho nenhuma dúvida. E vamos continuar exportando mais commodities por muitas décadas, tanto do campo e do solo, quanto do subsolo, como é o caso dos mi- nérios. O que está ocorrendo é que o Brasil continua surfando numa onda favorável, de demanda mundial para produtos em que so- mos competitivos, como nas áreas agrícola e mineral. Esse é um aspecto dinâmico da eco- nomia brasileira. E espero que os governos sucessivos não venham a criar dificuldades, J o s é B o t a f o g o G o n ç a l v e s
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