Revista da ESPM

R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 18 } O que o Brasil precisa questionar é, em longo prazo, quais são seus interesses no relacio- namento com a China e qual a repercussão desses interesses. ~ ENTREVISTA já que os governos anteriores não criaram. Aliás, nesse ponto, Lula foi positivo porque permitiu que as indústrias e os setores ex- portadores de commodities pudessem operar com mais eficiência. Temos um problema de competitividade na indústria em relação ao custo de produção tanto para o mercado interno quanto para a exportação. Ainda assim estamos ampliando nossas exporta- ções para os países da América do Sul, que são grandes compradores de manufaturas. Com todos os problemas que temos com a Argentina, o Brasil ainda continua sendo um grande supridor de produtos industriais para aquele país. GRACIOSO – Apesar de o câmbio não favorecer. BOTAFOGO – Quando fui embaixador na Argentina, há poucos anos, eles queixavam- se que o Brasil praticava desvalorizações competitivas. Hoje, praticamos valorização descompetitiva – se é que existe essa expres- são – e, no entanto, estamos vendendo ainda mais para Argentina, Colômbia, Paraguai e Venezuela. E vendemos serviços. A expli- cação disso é que deveria abrir uma nova avenida. Quem sabe, numa revista futura, vocês devessem enfocar o tema da interna- cionalização da empresa brasileira, porque essa é uma grande mudança de paradigma na estrutura produtiva do País. Antes, no Brasil, as empresas industriais produziam para o mercado interno, para exportar com apoio do crédito do Banco do Brasil e tinham uma política de medidas protecionistas – imposto de importação, defesa comercial etc. Atualmente, as empresas transnacionais não são exportadoras, são transnacionais, como Petrobras, Vale, Natura, Marcopolo, Embraer. Já estão presentes em vários seto- res, desde a indústria pesada e de minera- ção até a indústria leve, partindo para uma estratégia produtiva mundial, de produção local. Esses setores estão mudando a cabeça dos executivos e vão influenciar as políticas públicas brasileiras. Esse é um campo que merece um enfoque particular. GRACIOSO – Que futuro o Mercosul terá em nosso esquema de relações com o cont inente e o mundo? Ele tornar-se-á mais impor tante, por exemplo, com a entrada da Venezuela e talvez de outros países ou nunca mais terá a proeminência que já teve numa certa época? BOTAFOGO – É uma boa pergunta. O Mercosul tem um objetivo politicamente ambicioso, porque, fazer o mercado comum implica mais do que eliminar barreiras ou criar blocos e ter políticas de comércio exte- rior convergente. Significa tomar a decisão política de integrar cadeias produtivas, de movimentar livremente mão de obra e ca- pital – bens, dinheiro e pessoas. É um plano politicamente ambicioso e foi lançado com esse objetivo. GRACIOSO – Em 2010, as empresas brasileiras investiram US$ 7 bilhões na Argentina. Não é pouco.

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