Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 20 } Somos um grande investidor da Argentina e te- mos algumas situações curiosas: 90% da comer- cialização da carne argentina estão nas mãos de empresas brasileiras. ~ ENTREVISTA modo geral serão extremamente dinâmi- cos e até positivos, mas é melhor não falar em integ ração nesse sentido prof undo, porque isso é uma questão que vai levar ainda muito tempo. A Europa conseguiu uma integração depois de séculos, depois de duas grandes guerras. Aí, chegaram à conclusão de que em vez de matarem-se mutuamente, era melhor cooperar. Qual é a integração entre Brasil, Colômbia e Peru se não temos quase relações em termos concretos? Mesmo com a Argentina, já conseguimos um grau de integração bem superior, mas ainda há um campo muito amplo, creio que praticamente 70% do comércio ainda passa pela Ponte Inter- nacional Uruguaiana-Paso de los Libres, quer dizer, ainda há um grande gargalo de infraestrutura. O Mercosul continuará tendo um papel importante, até porque o projeto de integração do Cone Sul faz todo o sentido. Mas seus objetivos mais profundos não serão alcançados no curto prazo e é melhor que não sejam, porque as condições objetivas para que isso ocorra ainda não existem. GRACIOSO – Nesse contexto é claro que a figura dos Estados Unidos tende a estar sempre presente, os interesses americanos podem favorecer ou não um determinado tipo de associação. Por que os americanos estão tentandomarginalizar a Argentina? Umexemplo foi a viagemque BarackOba- ma fez ao Brasil e ao Chile, passando por cima de um grande país, como é a Argen- tina, ignorando-a. O que eles, realmente, têm contra os argentinos? BOTAFOGO – O importante é perguntar aos argentinos e a este governo, o que eles têm contra os Estados Unidos. GRACIOSO – Em outras palavras, a cul- pa talvez seja mais deles. BOTAFOGO – Ironia à parte, a verdade é que a Argentina é um exemplo curioso. Apesar de ter aspectos muito positivos, é um país que tem uma tradicional inconsistência na política externa − reconhecida por eles. Se pegar os últimos 50 anos, o que a Argentina já variou de posição em matéria de política externa e de relação com seus parceiros tanto vizinhos próximos quanto distantes, como os Estados Unidos! Isso exige uma análise profunda. Eles mesmos têm feito essa análise e ainda não chegaram a uma conclusão, porque na Argentina debatem muito as posições internas e as opiniões são muito divergentes. Se conversarmos com seis argentinos, cada um deles terá uma opinião diferente sobre a relação com os Es- tados Unidos. Se analisarmos a história mais recente, de Juan Domingo Perón para cá, as relações com os Estados Unidos tiveram características muito contraditórias. Todos sabemos que, na Segunda Guerra Mundial, Perón namorou uma aliança com o eixo. GRACIOSO – O Perón queria o soldo (remuneração por serviços militares), do Brasil todo para ele. BOTAFOGO – Exatamente. E a tentação nazista foi muito forte na Argentina. Aqui foi um pouco, mas depois houve uma aco- modação e todos conhecem os episódios –
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