Revista da ESPM

março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 21 } As estatísticas não indicam nenhuma desindus- trialização do Brasil, se entendemos por desindus- trialização a par te de componentes da indústria na formação do produto bruto. ~ Getúlio Vargas, Roosevelt, Oswaldo Aranha etc. Mas o Brasil tornou-se um parceiro confiável. Depois, temos o período Menem, em que a guinada foi exatamente no sen- tido oposto, quando o então ministro das Relações Exteriores, Guido di Tella, dizia que era preciso ter relações carnais com os Estados Unidos. Infelizmente usou essa expressão: “Quero ter relações carnais com os Estados Unidos”. Chegaram a ter até a iniciativa, quase à beira do ridículo, de pedir para entrar na OTAN. A resposta, depois de alguma hesitação, foi que a Argentina não poderia entrar para a OTAN, porque era a Organização do Tratado do Atlântico Norte e a Argentina estava no Atlântico Sul. Evi- dentemente que foi uma maneira elegante de dizer para a Argentina não se meter por lá. A política do atual governo de Néstor e Cristina Kirchner não é muito clara, com a rejeição aos acordos internacionais na área econômica, como o caso do calote. O calote, quando é dado e discutido com o banqueiro, dá para superar, ou seja, devo não nego, pa- garei quando puder. Mas devo, nego e não pagarei, já é diferente. O Brasil já fez calote. No passado, José Sarney decretou um calote e pagamos muito caro por isso. O prejuízo de um calote é muito maior do que a econo- mia que ele dá em curto prazo. A Argentina comportou-se mal nesse ponto de vista e o que acontece hoje é que ainda não há um clima que demonstre um retorno à consis- tência na relação entre Argentina e Estados Unidos. Em primeiro lugar, o Obama teve certa dificuldade, porque deixou os Estados Unidos num momento de crise. Até a última hora muita gente o aconselhava a não viajar, ainda mais quando estourou o problema da Líbia, o momento não foi oportuno. Se ia para algum lugar na América do Sul, teria de ser o Brasil, a despeito das fricções que o Lula criou com a diplomacia americana, mas que ele notou que não seriam mais as mesmas da Dilma e do Patriota. Já o Chile é, evidentemente, um parceiro privilegiado na área comercial. GRACIOSO – É o bom aluno que eles querem apontar como exemplo para a classe. BOTAFOGO – No caso da Argentina, com- por as suas relações com os Estados Unidos, dependerá mais dela. Tenho certeza que os Estados Unidos teriam o máximo interesse em melhorar suas relações com a Argentina. SÉRGIO – Como estávamos discutindo o BRIC, pelo jeito o B está bastante forte com relação a essa conjuntura. Nos Estados Unidos a maneira também é de mudar o foco do Brasil na relação com a China? BOTAFOGO – Não dá para fazer esse tipo de raciocínio. Na verdade, a presença da China no Brasil e no mundo é tão avassaladora, surpreendente e veloz, que exige todo um repensar global, mas não dá para fazer, em termos de alternativa – China ou Estados Unidos, Rússia ou China, Europa ou China – porque a China está em todas. O que o Brasil precisa questionar é, em longo prazo, quais são seus interesses no relacionamento com a China e qual a repercussão desses J o s é B o t a f o g o G o n ç a l v e s

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