Revista da ESPM

março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 23 } Há 12 anos, o Brasil era um expor tador de US$ 70 bilhões. Hoje esse número dobrou, passando para mais de US$ 160 bilhões. Houve um crescimento muito grande do comércio expor tador. ~ americano ser dono de um pedaço da Ama- zônia, que é maior do que a Bélgica (todo o projeto de Ludwig ocupava uma área de 16 mil km²). Se ameaça ou não a segurança nacional, se vai desembarcar tropas, esse é outro problema. Essa é a grande inquieta- ção que temos em relação à China, mas não adianta dizer que vai deixar de negociar ou impor restrições ao comércio com a China para comprar mais dos Estados Unidos, porque isso não funciona. GRACIOSO – Olhando para o futuro e para a negociação, o senhor mencionou que o que mais dificulta novos acordos comerciais relevantes entre Europa e Brasil e até mesmo os Estados Unidos são dois fatores: serviços e compras governamentais. Nosso governo ar- recada em impostos 35% do PIB e a metade disso é usada para compras de fornecedores locais. Imagine só o que isso significa, como reserva de merca- do para a indústria nacional. Também é impressionante a importância que tem a área de serviços para a economia. O que fazer diante desse panorama? Se- gurar enquanto podemos, ou seria até vantajoso integrar de uma vez o Brasil no mundo e abrir essas fronteiras? BOTAFOGO – Na área de serviços deve- ríamos caminhar para uma progressiva abertura. Temos mais a ganhar do que a perder, mas tudo isso dentro dos limites. Uma abertura muito abrupta não é conve- niente. Ainda vivemos um sistema muito corporativo na área de serviços no País – não diria protecionista, mas corporativo. É um modelo getuliano de corporações inspiradas no fascismo de Mussolini. Isso ainda não se desmontou, mas o advogado não aceita o advogado estrangeiro, o engenheiro tem dificuldade, assim como o médico. Na área da educação é a mesma coisa. No âmbito do Mercosul já houve várias flexibilizações para reconhecimento de títulos. Esse é um terreno com enorme capacidade de expan- são. Então, você vai abrindo os mercados regionais para médicos peruanos ou colom- bianos nos pequenos municípios do interior do País. Deveríamos ser mais flexíveis na área de serviços e trocar acordos específi- cos. Não precisa fazer um acordo de livre comércio amplo e complicado, de terceira geração. Quando eu era subsecretário do Itamaraty na área econômica, participei das negociações da ALCA e discutia-se muito um acordo de compras. A posição brasileira era muito restritiva, não queria conversar. Até hoje esse comportamento não mudou. Eu seria um pouco mais flexível, examinaria com cuidado e seriedade para ver se é efetiva a abertura americana para as compras even- tuais, porque o governo americano também tem uma capacidade de compra incrivelmen- te superior à do governo brasileiro. GRACIOSO – Eles também têm meca- nismos de proteção da sua indústria. BOTAFOGO – Nesse campo eles não deram suficientes demonstrações de que a abertura era real. Então, haveria um desequilíbrio, eles certamente conquistariam uma fatia do mercado governamental brasileiro e não sei J o s é B o t a f o g o G o n ç a l v e s

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