Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 24 } Estamos à beira de apagões logíst icos, não só de energia, que afetam a competitividade da nossa pauta expor tadora industrial. ~ ENTREVISTA se as indústrias brasileiras pegariam uma fa- tia. Somente na área do Pentágono, imagine como seria fornecer sapatos para o exército americano. Mas não creio que eles tenham chegado a esse ponto. Em tese poderíamos ser bem mais flexíveis na área de serviços, mas também buscar clara reciprocidade na área de compras. Os acordos da OMC per- mitem quantificar e selecionar. Não é uma compra total, você pode fixar parâmetros, setores e medições. GRACIOSO – Ninguém aqui tem bola de cristal, mas como o senhor vê o Brasil daqui a 20 anos em termos de projeção, de importância real e de maturidade? BOTAFOGO – A minha resposta é muito posi- tiva, não vou dizer otimista porque otimismo pressupõe um preconceito a favor. Olhando para o passado, que é algo que muita gente se esquece, vejooBrasil bemno futuro. Se olharmos somente o século XX, o desempenho brasileiro é bastantepositivoemmuitos aspectos.Noaspecto econômico não há nenhuma dúvida de que o Brasil é um dos países que têm um dos maiores desempenhos de crescimento anual. Teve o movimento da década de 80 em que paramos de crescer, a chamada Década Perdida, mas se pegar a linha de todo o século, o desempenho é extremamente positivo. O Brasil vem crescendo consistentemente,mas comgraves desequilíbrios de renda. Nisso não há dúvida, devemos atribuir ao Lula o mérito de criar esses programas, que são relativamente baratos: o Bolsa Família não passa de 0,5%do PIB, mas facilitamuito a incor- poração aomercado consumidor de umnúmero grande de famílias. GRACIOSO – Esse programa está aju- dando muita gente a sair da miséria. BOTAFOGO – Historicamente, o Brasil tem se projetado como um grande protagonista do crescimento econômico. Se examinar- mos as estatísticas de bem-estar social do IBGE, inclusive durante a chamada Década Perdida... GRACIOSO – Não foi tão perdida assim. BOTAFOGO – Não, houve melhoras em tudo: desnutrição, mortalidade infantil, abaste- cimento de água e esgoto, analfabetismo, doenças contagiosas, número de televisores e geladeiras por domicílio, número de au- tomóveis e passageiros por família, ou seja, em todos os índices sociais. O Brasil vem melhorando consistentemente e caminhan- do na direção correta. Isso vem ocorrendo há um século; é uma dinâmica. No plano internacional, o Brasil é um dos poucos países do mundo que têm um desempenho de consistência e seriedade internacionais. Qual o grande erro que o Brasil cometeu no campo internacional desde o Barão do Rio Branco? Que eu saiba, nenhum. Acertou o problema das fronteiras com seus vizinhos, na maioria das vezes, por meio de negocia- ções diretas. No caso mais difícil, que foi com a Bolívia, conseguiu através da compra do Acre. Enfim, houve uma tranquilidade e um processo civilizado em negociar frontei- ras que não existe exemplo igual no mundo. Os Estados Unidos fixavam suas fronteiras a poder de bala, tiro, guerra. Os países da América do Sul até hoje não acertaram to- talmente suas questões fronteiriças: Peru
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