Revista da ESPM
março / abril de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 25 } Por mais bem-sucedido que tenha sido, o Mer- cosul vai entrar num compasso de espera até que os paradigmas de riscos sejam modificados. ~ ES PM brigou com Chile; Chile brigou com Bolí- via; e Peru até hoje não mantém relações diplomáticas com Chile e Bolívia por causa do acesso ao mar. O Brasil foi o único país da América do Sul a participar da Segunda Guerra Mundial, do lado certo, mandou 25 mil soldados. Se comparar o esforço militar que o Brasil fez na Segunda Guerra com as recentes intervenções militares no Haiti, o esforço daquela época foi muito ma ior em relação ao PI B brasi lei ro. O Brasil ganhou credibilidade na sua ação internacional e o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, passou a ser res- peitado. Foi uma surpresa para muitos ver esses desvios de comportamento no governo do presidente Lula, porque não cor respond iam a t rajetór ia de pol ít ica externa do Itamaraty, foram pontos fora da curva. Agora, aparentemente o Brasil voltou ao mainstream . Não é um otimismo vazio, estamos bem. O Brasil será cada vez mais um país importante no mundo. SÉRGIO – Falamos muito de Brasil e China, mas como o senhor vê a Rússia e a Índia? BOTAFOGO –AChina continuará sendo impor- tante porque realmente colocou em movimento umprocessode tal dimensão comaquela quanti- dade enorme de pessoas e comtal eficiência, que, durante muito tempo, esse país será uma estrela no mundo. A Índia também está caminhando nesseponto,mas ainda estánumestágioanterior; a China andou mais rápido. O caso da Rússia é diferente, não temamesma importância de Índia e China. As nossas relações serão certamente menos intensas com a Rússia. GRACIOSO – No entanto, a Rússia ocu- pa uma área de 22 milhões de quilô- metros quadrados. BOTAFOGO – E tem uma potencialidade agrícola importante. Eu e um colega, o Marcos Azambuja, participamos de vá- rios encontros do BRIC em Nova Déli e Moscou. Na ocasião, ele cunhou uma frase muito interessante, que diz: “tamanho é documento”. O BRIC deu certo porque é uma sigla que representa quatro grandes países. Então, tamanho é documento. É difícil pensar o mundo sem esses quatro g igantes, que isoladamente são mu ito diferentes. Desses quat ro, o Brasil é o mais excêntrico no sentido de jogar com o tema e no sentido político do tempo, porque Índia, China e União Sov iética têm uma história em comum de pertur- bações, desequilí brios e conf litos de toda natureza. Então, quando um mexe, agita tudo ao seu redor. Aqui, o Brasil mexe e nada acontece, porque nossos v izinhos nunca foram problema. GRACIOSO – Por outro lado, estamos na periferia do mundo. BOTAFOGO – Isso é uma desvantagem. Mas também é uma vantagem que nos permite crescer fora dos ares de conflito. GRACIOSO – Exatamente, sem chamar muita atenção. BOTAFOGO – Hoje, o Brasil está entendendo que pode crescer se aproveitando do fato de que está numa área onde não há tensões nem conflitos. GRACIOSO – Obrigado, Embaixador. J o s é B o t a f o g o G o n ç a l v e s
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