Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – março / abril de 2011 28 Esta proposta logo atraiu as atenções pelo magnetismo do próprio acrônimo. Para o Brasil, foi um adicional muito bem-vindo de soft-power que nada nos custou e que incluiu nosso país, pela primeira vez, numa seleta lista de países grandes hoje na vanguarda do crescimento econômico e com peso crescente na cena global. Existem outras possíveis candidaturas como África do Sul, México, Indonésia, Coreia e Turquia, por exemplo, mas é previsível que os quatro atuais integrantes resistirão aos pedidos dos voluntários novos. Seria, porém, um erro examinar o papel dos países emergentes com excessiva ênfase no BRIC. Não se deve esperar que o grupo BRIC atue de forma coesa nas questões internacionais. Há pouco em comum entre cada país, além do tamanho de seu espaço geográfico, de sua população e de sua eco- nomia, de sua massa crítica enfim. Cada um tem sua própria história, seu grau de avanço tecnológico, seu poder militar e sua inserção geográfica, seus interesses regionais – en- fim sua singularidade. Nenhum dos quatro deverá aceitar que haja posições comuns em questões específicas, salvo sob a forma de denominadores comuns muito amplos. A China, sem dúvida o mais poderoso dos in- tegrantes, não abrirá mão de seus objetivos próprios e tem-se mostrado o mais relutante nas reuniões de cúpula. Grandes potências consideram-se um grupo em si mesmo. A Rússia, cujo prestígio internacional declinou nos últimos vinte anos, vê no BRIC uma oportunidade de redourar suas credenciais de superpotência. Os quatro têm-se posi- cionado de modo prudente e limitado em seus objetivos, como grupo. Não espero que o BRIC evolua para tornar-se um fator mais marcante da cena internacional, nem que se distanciem das generalidades em que têm-se expressado até agora. Por tudo isso, sustento que não vale a pena deter-se demasiado no BRIC porque nele não reside a substância real do poder que diversos países emergentes vão assumindo. Com a forte redução das ameaças de guer- ra entre as grandes potências, os líderes mundiais elevaram consideravelmente suas prioridades econômicas. O poder não é mais medido, em última análise, pela capacidade bélica de cada país. Por isso, a maioria das nações está limitando seus orçamentos militares e evitando intervenções armadas no exterior. Para os países emergentes, o fundamental é o investimento e o comér- cio internacional, com acesso a mercados, desenvolvimento tecnológico e, sobretudo, a promoção de novas oportunidades para os mais pobres. É claro que há países com grandes preocupações de segurança, como a Índia, a China e a Rússia, que mantêm forças armadas consideráveis, inclusive com poderoso armamento nuclear. Para outros, como Brasil, África do Sul, México, Indonésia e Turquia, o poder militar não tem O Brasil tem certamente um grande peso político e diplomático na América do Sul, mas nos últimos dez anos não desempe- nhou papel ativo na so- lução de controvérsias regionais, seja porque não quisesse desgastar- -se, seja porque não quis parecer intrusivo. Mesmo em situações tão próxi- mas como o conflito das chamadas papeleiras na fronteira uruguaia com a Argentina, oBrasil omitiu- -se. Esta é uma lacuna que debilita a liderança regional que pretende- mos exercer.
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