Revista da ESPM
LUIZ FELIPE LAMPREIA Professor adjunto do curso deRelações Internacio- nais da ESPM-Rio. essa nação, mas é também a opção de Co- lômbia e Peru, que têm negociações neste sentido, do Equador – cuja moeda nacional é o dólar americano – para não mencionar o desejo do Uruguai, não fosse o impedimento do Mercosul. O Brasil tem certamente um grande peso político e diplomático na América do Sul, mas nos últimos dez anos não desempe- nhou papel ativo na solução de controvér- sias regionais, seja porque não quisesse desgastar-se, seja porque não quis parecer intrusivo. Mesmo em situações tão próximas como o conflito das chamadas papeleiras na fronteira uruguaia com a Argentina, o Brasil omitiu-se. Esta é uma lacuna que debilita a liderança regional que pretendemos exercer. Não há mais justificativa para que as nos- sas Forças Armadas fiquem à margem das graves questões de segurança interna que atormentam os cidadãos das grandes cida- des. Este é anseio da sociedade brasileira. Mas não creio que ela esteja preparada para um grande projeto de poder internacional, com um investimento maciço em tecnolo- gia e equipamentos militares, o que, aliás, parece-me correto, à luz das muitas carên- cias sociais que nosso país enfrenta. Não há tampouco ameaças externas que tornem im- perativos os enormes gastos com que muitos países são forçados a arcar para defender-se ou para afirmar-se internacionalmente. Mas a questão que se coloca é: podemos atingir um status de grande potência apenas com o soft-power que o país tem, ou será necessário desenvolver também nosso hard power ? A diplomacia mais enfática do governo Lula foi uma tentativa de afirmar que o país final- mente chegou na cena global e está destinado a beneficiar-se com as mudanças em curso no sistema internacional, tornando-se uma grande potência neste século, o que é um objetivo válido. O Brasil está pronto para ocupar o luga r que l he cabe? Nunca , em nossa história, estivemos em posição tão elevada na escala do prestígio internacional. Raríssimos os países que podem exibir, nos últimos quinze anos, um aumento comparável de estatura interna- cional. Vivemos no passado sob o vaticínio de Stefan Sweig: “Brasil, país do futuro”, geralmente acom- panhado com a ironia que acres- centava... “sempre será”. Hoje essa visão defensiva já não tem lugar. Pelo simples tamanho de seu terri- tório, por sua riqueza e capacidade econômica, nosso país terá uma forte influência na sua região e nas questões internacionais. De minha parte acho mais importante que busquemos como nação ser uma pátria justa do que uma potência militar. Mas, mesmo nas projeções mais otimistas, o país não poderá competir em termos bélicos com as atuais grandes potências, como os Estados Unidos, a França e a China. Uma presença de “impacto sistêmico” do Brasil terá de se fazer pelo peso de sua economia e pela habi- lidade de seus líderes políticos e diplomáticos. Assim precisará exercer uma posição forte, mas moderada, sem ceder à tentação de pro- tagonismos desgastantes, como foi o caso no último ano do governo Lula. Aprincipal forçadoParti- doComunistachinês, re- side, justamente, na sua capacidade emconduzir o país a umcrescimento sustentadopor décadas, incorporando, gradual- mente, a grande massa de camponeses pobres, elevando seu nível de consumo e qualidade de vida. ES PM
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