Revista da ESPM
No entanto, há questões prévias, ainda mais importantes que o resultado dessas negociações: O Brasil quer fazer do comércio exterior sua principal via de in- serção na economia global? Desejamos que o comércio exterior se torne nossa ferramenta privile- giadaparaa construçãodepoupança nacional e de recursos para investir? Temos, portanto, de substituir noções simplistas, como a ideia de que “omercadomundial pode ser interessanteparaoBrasil sebarreiras protecionis- tas forem eliminadas”, por questões como “qual nossa estratégia de promoção comercial, mesmo nummundo protecionista?”. As lições da história econômica das últimas décadas ensinam claramente que aqueles países que buscaram a internacionalização tiveram mais êxito do que os atrelados dog- maticamente a seu mercado interno. Cabe ao Brasil aprender essa lição. Para esse objetivo, além das reformas tra- balhista, previdenciária e tributária, há um “quarteto” de prioridades: facilitação da legislação interna para abertura de empresas de vocação exportadora; ênfase nos aspectos logísticos de pro- jetos a serem contemplados pelas PPPs (parcerias público-privadas); formação de recursos humanos espe- cializados, no âmbito do setor privado, para a promoção comercial no exterior e a atração de IEDs (investimentos estrangeiros diretos); e fortalecimento da presença das micro e pequenas empresas mediante con- sórcios exportadores. Eis os primeiros – e elementares – passos rumo a uma nova inserção externa. Conclusão O Brasil, por fim, não tem um projeto arti- culado de poder ou prosperidade. Sua visão estratégica é mais geopolítica que geoeconô- mica. Sua ideia de prestígio está entrelaçada principalmente com o fortalecimento da ONU e a construção de uma Comunidade Sul-Americana de Nações, bem como a cooperação Sul-Sul, mas com pouca margem para além das “boas intenções” e relações “equilibradas”. Tentativas levadas a cabo pelo Brasil de construir relações estratégicas, como a China ou a França, são unilaterais na maioria das vezes. A nova posição do Brasil nas relações interna- cionais virá de êxitos em setores específicos (agroenergia, mineração, perfuração e extração de petróleo offshore , aviões, conglomerados bancários gigantes e os efeitos multiplicadores para a indústria de serviços do investimento em infraestrutura). E, em grande medida, pelo novo status de potência petrolífera viabilizado pelas descobertas do pré-sal. Eis a grande janela de oportunidade, associada à economia da criatividade, para fazer as reformas internas, subir o investimento emP&Dpara 2% do PIB e internacionalizarmos amarca “Brasil”. Assim, o País estaria inserido de forma defi- nitiva no quadro das nações mais dinâmicas, prósperas e influentes do século XXI. MARCOS TROYJO Diplomata, economista e cientista político. Doutor em Sociologia das Relações Internacionais pela USP. Fundador do Centro de Diplomacia Empre- sarial e pesquisador daUniversidade Paris V – Sor- bonne. E-mail: troyjo@post.harvard.edu ES PM
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx