Revista da ESPM

A questão para a Índia é como gerar riqueza o suficiente para a inclu- são social, pois um país cercado por conflitos po- líticos e religiosos não pode depender apenas de tecnologia da infor- maçãooudeserviçosde call center como a força- motriz do crescimento econômico. 41 assim terá de conviver cada vez mais com imprevisibilidade e insegurança. Bastaria o crescimento econômico para atender os anseios de sua população? E, ainda que sim, por quanto tempo? A China depende dos recursos dos outros para assegurar seu desenvolvimento. Isto é bom para o Brasil na medida em que tenhamos o que fornecer e o preço seja interessante. No entanto, recursos exportados à China rapidamente transformam-se em problemas importados da China – sobretudo para a indústria de transformação brasileira que não consegue competir em virtude de uma concorrência desigual em diversos aspectos (tributário, trabalhista, logístico, cambial, financeiro – entre outros). Vale dizer que este modelo chinês de qualquer forma talvez não seja tão sustentável quanto possa parecer no momento. A China é bem menos dona de seu futuro do que as aparências atuais possam nos levar a crer. Neste sentido, seria prudente supor que a ascensão da China se mantenha ao longo do tempo? Uma passagem para a Índia A Índia, como o Brasil, foi uma colônia e se forjou como país moderno a partir de sua independência – esta muito mais recente do que a brasileira. Como civilização, a Índia é a segunda mais antiga do mundo depois da China, mas sua diversidade cultural repre- senta também um grande desafio, na medida em que a convivência entre etnias e religiões reflete problemas históricos por vezes de difícil solução. Contrariamente à China e à Rússia, que no século passado optaram por vias plenamente opostas ao capitalismo ocidental, a Índia optou por uma via própria, porém “conversável” com as forças de mer- cado – ainda que com um vigor estatal ainda maior que o Brasil. Em comum conosco, a Índia teve e ainda tem até certo ponto a necessidade de não se alinhar “facilmente” aos interesses de países desen- volvidos – ou em desenvolvimento, tampouco. Quando vigorava a teoria da dependência nos círculos de Genebra e Oxford, tanto Índia quanto Brasil se diziam não alinhados às pre- missas econômicas ocidentais – tais como o livre-comércio ou a abertura ao investimento estrangeiro. Hoje, ironicamente, o alinhamento com o Ocidente econômico é cada vez maior, ainda que a retórica por vezes pretenda conven- cer da lealdade dos dois países aos países em desenvolvimento. A verdade é que Índia e Brasil competem entre si no mercado internacional – algo que tende a crescer na medida em que os dois se tornem mais competitivos. O dilema para a Índia é, de certa forma, o inverso daquele da China. Assim como o crescimento econômico talvez não seja sufi- ciente para atender aos anseios dos chineses, a democracia tampouco será suficiente para atender aos anseios dos indianos. A questão para a Índia é como gerar riqueza o suficien- te para que a inclusão social seja também suficiente, dadas as condições do país – de aguda pobreza, de falta de recursos naturais, de excessiva burocracia e de conflitos políticos e até religiosos. Um país cuja renda per capita é nove vezes menor do que a do Brasil ou da Rússia (ambos em torno de USD 10 mil) e

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